Título: Governo argentino reduz exportação para o Brasil
Autor: Leila Coimbra
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2005, Empresas &, p. B8

A argentina Central Costanera alega que não vem cumprindo os contratos com as empresas brasileiras porque, devido à escassez de energia no mercado local, o governo mudou as regras do setor. A Argentina permite a exportação de eletricidade somente se a demanda interna estiver garantida. Em um comunicado enviado à Bolsa portenha no final de abril, a empresa já havia dito que por razões "involuntárias" e "motivos de força maior" não podia garantir o cumprimento dos contratos com os clientes brasileiros. "Estes contratos foram assinados nos anos 90, época em que se não tínhamos energia só precisávamos ir ao mercado local e comprar", disse Patricia Bassi, diretora financeira da companhia ao site britânico "Debtwire" em meados de maio. Ela lembrou que a companhia não pode mais adquirir energia no mercado para exportar devido às mudanças de regras impostas ao setor pelo governo devido à crise energética enfrentada pela Argentina. Segundo a executiva, a renegociação dos contratos com os clientes brasileiros é prioritária. O problema teria sido agravado pelo fato de uma das seis termelétricas da empresa estar em manutenção quando a energia foi requisitada pelo Brasil. Para cumprir o contrato parcialmente, a Central Costanera também teria tido de utilizar óleo combustível para alimentar algumas usinas por causa da escassez de gás, aumentando os custos de geração. Os problemas com o fornecimento chegaram a ser abordados em abril pela então ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef, que veio a Buenos Aires para uma reunião com o ministro do Planejamento argentino, Julio de Vido. Na visão das autoridades argentinas, a culpa pela falta de energia é das empresas, que não teriam ampliado a capacidade de geração e se comprometeram de maneira inconsequente com contratos internacionais. Já as empresas alegam que tiveram sua rentabilidade afetada pela crise econômica e sua receita reduzida pela pesificação e pelo congelamento de tarifas imposto em janeiro de 2002, além da mudança de regras que inibe novos investimentos. Uma das preocupações das autoridades brasileiras é que este tipo de problema mine os esforços de integração energética feitos nos últimos anos pelos dois países. Por enquanto, o lado que mais se beneficiou da interligação de linhas elétricas foi a Argentina. Durante o inverno de 2004, o Brasil enviou eletricidade em caráter emergencial ao vizinho, depois de a queda na oferta ter obrigado as autoridades a baixar a tensão da rede.