Título: Itaú leva contas da Prefeitura de SP
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2005, Finanças, p. C1

Negócio Pagamento de salário de 210 mil funcionários custa R$ 510 milhões em licitação

O Banco Itaú assina hoje com a Prefeitura do Município de São Paulo contrato pelo qual vai realizar o pagamento da conta-salário dos 210 mil funcionários municipais ativos e inativos, negócio que movimenta R$ 4,4 bilhões por ano; e a administração do caixa de aproximadamente R$ 11 bilhões e aplicação de disponibilidades da cidade de São Paulo. Os contratos têm cinco anos de prazo. Esses são seguramente dois dos mais cobiçados negócios do mercado financeiro. Por isso, o Itaú pagou um bom preço: R$ 510 milhões para ter a conta dos funcionários e R$ 1,5 milhão pela administração do caixa do município paulistano. O diretor comercial do Itaú, Ronald Anton de Jongh, afirmou que o banco ficou feliz com o negócio: "O mercado de São Paulo é onde o Itaú tem sua origem, onde está sua sede. Temos capacidade física para absorver essa clientela, que é bastante cobiçada". O Itaú tem 300 agências apenas na cidade de São Paulo de uma rede total de 2,2 mil. O contrato interessa ao banco não só pelo acesso a um número de clientes equivalente a quase 2% do total de 12 milhões que o banco possui, mas, especialmente, pelo perfil da carteira. Cada um dos 210 mil funcionários públicos da cidade de São Paulo recebe, em média, R$ 1,6 mil por mês. Cerca de 48% deles ganham até R$ 1,5 mil. Um terço está na cobiçada faixa de R$ 1,5 mil a R$ 3 mil; e 20% ganham mais de R$ 3 mil. "Podemos oferecer a eles crédito para o consumo, cheque especial, seguros, previdência, fundos de investimento, além do consignado", disse Jongh praticamente esgotando o cardápio de produtos do Itaú. O Itaú, que comprou o carioca Banerj em leilão de privatização, em 1997, passa a dominar assim as carteiras de funcionários públicos nas duas principais cidades do país. Só no Rio são cerca de 400 mil. O Itaú também comprou o mineiro Bemge, em 1998, com 350 mil clientes; o Banestado, em 2000, com 150 mil; e o BEG, em 2001, com 50 mil. As ações preferenciais do Itaú subiram 3,94% na terça-feira, quando começaram a circular rumores do resultado da licitação, realizada segunda-feira à tarde. Ontem, o papel devolveu parte dos ganhos e recuou 1,23% para R$ 520. O analista de bancos do Pactual, Pedro Guimarães, criticou o fato de o banco não ter divulgado nenhum comunicado ao mercado a respeito desse negócio. A Prefeitura também leiloou a conta dos pagamentos a fornecedores, assumida pelo Bradesco pelo valor de R$ 19 milhões. A Prefeitura de São Paulo tem um cadastro de fornecedores com 46,7 mil pessoas físicas e 21 mil pessoas jurídicas, das quais 15,9 mil receberam créditos em 2004. O negócio não é menos importante: a média mensal de pagamentos efetuados aos fornecedores pela prefeitura paulista foi de R$ 557 milhões no ano passado, quase R$ 7 bilhões no ano. No mesmo pacote foi leiloada ainda a movimentação do caixa da Conta Sistema de Transporte Coletivo Municipal (SPTrans), que não teve, porém, interessados. A Prefeitura paulista, que vai embolsar pouco mais de meio bilhão, não quis comentar a licitação, realizada segunda-feira à tarde, na modalidade de pregão pela melhor oferta de preço, com a abertura dos envelopes, após um embate jurídico com o Sindicato dos Bancários de São Paulo. O prefeito José Serra havia manifestado o interesse em leiloar as contas em abril. Um primeiro leilão foi marcado para 14 de julho. Mas o Sindicato dos Bancários conseguiu, em ação popular junto à 6 Vara da Fazenda Pública liminar suspendendo o leilão. A prefeitura recorreu e obteve a suspensão da liminar e marcou novo leilão para segunda-feira. No início do mês, porém, o sindicato restaurou a liminar que acabou sendo derrubada sexta-feira, possibilitando a manutenção da data do leilão. O presidente do Sindicato dos Bancários, Luiz Cláudio Marcolino, pretende recorrer novamente. Marcolino afirmou que a operação equivale a uma nova privatização, em detrimento da posição do Banco do Brasil (BB) que centralizava essas contas. A Prefeitura também tem convênios para a realização de serviços bancários com o Santander Banespa e com a Caixa Econômica Federal, que deverão prosseguir até o vencimento, no final de 2010 e em janeiro de 2009, respectivamente. Marcolino defende que o BB, por implementar políticas públicas deveria ter direito a essas contas. "O BB vai perder receita e espaço no mercado. É o banco público que tem de cuidar das contas públicas", afirmou. O BB não quis comentar a licitação alegando que não participara dela. Segundo Marcolino, as condições do edital impediam a participação do banco. O presidente do Sindicato dos Bancários teme que outros municípios sigam o mesmo caminho. No ano passado, o governo de Pernambuco fez o mesmo, leiloando 100 mil contas de funcionários do estado por R$ 240 milhões, negócio arrematado pelo ABN AMRO. O banco havia administrado essas contas anteriormente após adquirir o Bandepe em leilão de privatização. Para o analista Guimarães, os leilões põem em cheque as privatizações já realizadas. "O governo paulista pode também querer fazer receita leiloando as 800 mil contas de funcionários estaduais que passariam do Banespa para a Nossa Caixa em 2007". Talvez seja por isso que a Nossa Caixa esteja, desde o início do mês, atraindo funcionários públicos ativos e inativos do Estado de São Paulo que transfiram suas contas-salários para o banco com o sorteio de prêmios. Quem fizer isso até o final de novembro, vai concorrer a três automóveis zero km.