Título: Copom irá iniciar ciclo de baixa da Selic já este mês, prevêem analistas
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2005, Finanças, p. C2

Um ano depois do início do aperto monetário que elevou a taxa Selic de 16% em setembro de 2004 para 19,75% em maio de 2005, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em sua reunião marcada para quarta-feira, irá iniciar movimento de declínio do juro básico. Esta é a aposta consensual dos 12 analistas do mercado financeiro consultados ontem pelo Valor. O tamanho do corte também é unânime: de 0,25 ponto percentual. A baixa será simbólica, destinada a marcar o início da flexibilização monetária. O superintendente do Banco Fibra, João Rabêllo, acredita já haver condições na economia para uma baixa de 0,50 ponto. Mas como o BC se comporta como se fosse o Federal Reserve (Fed) - e o Fed sempre prepara o mercado para as futuras decisões, e só toma a decisão que já foi sinalizada previamente -, e como a última ata indicou recuo de 0,25 ponto com a retirada da frase "manutenção da taxa por tempo suficientemente longo", não se deve esperar por surpresas. Para Mário Mesquita, economista-chefe do ABN AMRO Real, a cautela do BC em iniciar a flexibilização monetária com um corte suave de 0,25 ponto decorre da percepção oficial de que a economia responde muito mais rapidamente a reduções de juros do que ao movimento inverso. Quando o BC deslancha um aperto monetário, o investimento, a demanda e o consumo resistem em se ajustar ao degrau mais baixo sinalizado pelo Copom. Ao invés de fazer efeito em três meses, a alta leva seis meses para produzir impacto efetivo. No caminho contrário, as baixas são percebidas como estímulo à produção. É por isso que um corte inicial já de 0,50 ponto pode ser entendido equivocadamente como sinal verde para uma atividade frenética. "O BC demonstra sempre a preocupação de não passar sinais errados ao mercado", diz Mesquita. O economista-chefe da Máxima Asset, Bernardo Mota, a diminuição de 0,25 ponto significa monetariamente o mesmo que uma decisão de manter a Selic estável em 19,75%. Não há diferença entre 19,75% e 19,50%, o aperto monetário ainda será fortíssimo e o juro real, o mais alto do mundo. Mesmo diminuto, o corte conseguirá contudo influir nas expectativas, forjando um ambiente mais favorável aos negócios. Até porque expressa a tendência de novas quedas. "Já existem plenas condições para uma atuação mais agressiva do Copom. A inflação, tanto a das expectativas quanto a taxa efetiva, converge para a meta de 5,1%. E os dados de produção industrial mostram que o crescimento no terceiro trimestre será menor que o registrado no segundo. Apesar disso, todo o conservadorismo do BC irá prevalecer", diz Mota. Com os preços livres perto de zero, o comportamento futuro da inflação passa a depender do eventual reajuste dos combustíveis e de um ou outro preço administrado. Pelo lado da inflação, não há riscos detectáveis à política monetária. E pelo lado da produção está afastada, segundo o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, a possibilidade de uma expansão desequilibrada entre oferta e demanda. Para Rosa, após um corte modesto este mês de 0,25 ponto, o Copom irá intensificar o desaperto. O economista prevê cortes sucessivos a partir de outubro de 0,50 ponto, com a Selic encerrando o ano a 18%. Essa idéia da intensificação do movimento de baixa é compartilhada pelo economista-chefe do WestLB, Adauto Lima. O vice-presidente da Fenacrefi, a entidade que representa as financeiras, José Arthur Assunção, também prevê três cortes sucessivos da Selic de 0,50 ponto cada em outubro, novembro e dezembro. Mas, para setembro, a aposta é de uma baixa de apenas 0,25 ponto percentual. Entretanto, segundo ele, existem motivos suficientes para o Copom optar por um corte de 0,5 ponto se quiser ser um pouco mais ousado. O que impede o BC de agir mais audaciosamente é a instabilidade no mercado de petróleo. Para o executivo, a política monetária liquidou a inflação por um longo tempo. "Mais importante do que cumprir a meta de 5,1% para este ano é a baixa pressão dos preços administrados em 2006, fator crucial para que a meta do ano que vem também seja alcançada. O mérito da política econômica é que, mesmo com tamanho arrocho, o crescimento é forte há oito trimestres consecutivos", diz Assunção Para o consultor Miguel Daoud, da Global Financial Advisor, chegou a hora da verdade para o BC. Diante das seguidas deflações e da pesada queda da produção industrial de julho, ele vai ter de escolher um de dois caminhos. O primeiro é continuar estimulando o setor externo da economia, o que não gera renda nem emprego, por meio de uma queda de 0,25 ponto da Selic. O segundo é o incentivo ao mercado interno, gerador de emprego e renda. Para isso, ele teria de derrubar a taxa em 1 ponto. O economista-chefe da GRC Visão, Jason Vieira, diz que, após a redução da atividade industrial em julho, o BC perdeu a última justificativa para manter a taxa congelada por mais um mês. O Copom só não fará um corte de 0,50 ponto porque ainda está do lado vencedor. Após um ano de aperto, a economia não deixou de crescer. Por isso reluta até o fim em indicar formalmente o início da flexibilização monetária. "A decisão que o Copom tomará semana que vem não é simplesmente a de cortar ou não o juro e com qual intensidade. Ela é mais complexa. Ele vai decidir se já está na hora de sinalizar a flexibilização", diz Vieira. Mais do que decidir sobre o juro, o BC irá revelar ao mercado na próxima quarta-feira a sua estratégia de política monetária para 2006, argumenta o economista-chefe da Global Invest Asset, Alex Agostini. A meta de inflação para 2005 será cumprida e resta agora evitar que a economia desacelere muito daqui para a frente. O dado da produção física da indústria em julho mostra que o desaquecimento está mais forte do que o previsto. E isso não é confortável do ponto de vista da estratégia para o ano eleitoral de 2006. O Copom só não irá cortar a taxa em 0,50 ponto agora para não correr o risco de ver o mercado exagerar na revisão da curva futura de juros, acredita a economista Carla Bernardes, da Modal Asset. A postura conservadora do BC indica que agirá cautelosamente para conhecer a reação do mercado, antes de aumentar o ritmo de queda.