Título: Porto Alegre elege Fogaça, do PPS, e tira do PT hegemonia de 16 anos
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2004, Política, p. A-09

Desgastado pela sucessão de administrações na prefeitura e também pela insatisfação de parte de sua base eleitoral com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT perdeu a hegemonia de 16 anos em Porto Alegre para uma aliança de 12 partidos liderada pelo PPS. O candidato petista, Raul Pont, recebeu 46,687% dos votos válidos, atrás de José Fogaça, que alcançou 53,32%. A diferença era de 53.721 votos. No primeiro turno, Pont havia obtido um índice de 37,62%, contra 28,34% de Fogaça. O PT também perdeu as outras duas cidades gaúchas que realizaram segundo turno. Em Caxias do Sul, administrada há dois mandatos pelo partido, a petista Marisa Formolo recebeu 47,57% dos votos, ante 52,43% de José Ivo Sartori (PMDB). Em Pelotas, o prefeito Fernando Marroni (PT), que tentava a reeleição, obteve 47,62% dos votos contra 52,38% de Bernardo de Souza (PPS). O desempenho do PT em Porto Alegre confirmou a tendência apresentada pelos institutos de pesquisa ao longo do segundo turno, mas surpreendeu pela diferença entre ambos, já que se esperava uma disputa mais apertada. A derrota nos três dos maiores colégios eleitorais do Estado também acabou ofuscando o aumento do número de prefeituras conquistadas pelo partido neste ano, que chegou a 43, ante 32 em 2000. Durante o dia militantes dos dois candidatos tomaram conta das ruas de Porto Alegre. Os petistas ganharam fôlego extra com a pesquisa Ibope divulgada no sábado, indicando a redução da vantagem de Fogaça sobre Pont dos 13 pontos registrados há duas semanas para apenas quatro pontos, dentro da margem de erro de 3,5 pontos para mais ou para menos. A derrota em Porto Alegre pode ainda levar o PT gaúcho a perder espaço no governo federal, onde ocupa quatro ministérios: Cidades, Desenvolvimento Agrário, Educação e Minas e Energia. A expectativa é que, após a eleição, Lula promova uma reforma ministerial para acomodar a nova correlação de forças políticas no país. O resultado também deve ter reflexos sobre a eleição de 2006, pois o partido tenderá a buscar um leque mais amplo de aliados. Neste ano, até o PSB, que tradicionalmente concorria coligado com o PT, saiu com candidato próprio no primeiro turno e só se aliou a Pont no segundo turno. Durante o dia, Pont deu entrevistas a emissoras de rádio e televisão apresentando-se como representante do " campo popular " e definindo a coligação adversária como " bloco conservador, ligado às empresas e aos grandes capitalistas " . Ele admitiu que o bordão da " mudança " , repetido à exaustão por Fogaça, poderia ter seduzido os eleitores porque a vida da maioria das pessoas está " difícil " . Fogaça, que concorreu coligado com o PTB no primeiro turno e no segundo recebeu o apoio do PMDB, PDT, PP, PV, PFL e PSDB e também do governador peemedebista Germano Rigotto, disse que os aliados não exigiram cargos, mas a inclusão de propostas no programa de governo. O prefeito eleito também irá governar com maioria na Câmara de Vereadores, onde os partidos que o apóiam conquistaram 23 das 36 vagas.