Título: BNDES prepara programa para que a indústria de plástico vire exportadora
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2005, Brasil, p. A2

O crescimento da oferta de matérias-primas petroquímicas no Brasil está levando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a trabalhar no desenho de um programa especial para estimular o crescimento paralelo da indústria de transformação de termoplásticos. O presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, disse ao Valor que o objetivo maior perseguido em conjunto com o banco estatal é a transformação da indústria de sacarias e artefatos de plásticos em um segmento fortemente exportador, destinado a disputar com os chineses o mercado dos países ricos. "A estratégia que temos trabalhado muito com o BNDES é a de buscar tecnologia e linhas de crédito para que os transformadores de plásticos saiam de uma posição de produtores apenas para o mercado doméstico e caminhem mais para exportações. Os mercados da Europa e dos Estados Unidos estão hoje dominados pelos chineses e não existe nenhuma razão para que os transformadores brasileiros não se tornem também grandes exportadores", disse. A entrada em operação da Rio Polímeros (Riopol), que produz eteno e polietilenos a partir do gás, acrescentou de uma só vez 520 mil toneladas/ano à oferta de resinas termoplásticas. A Polibrasil (Grupo Suzano) está aumentando de 500 mil para 750 mil sua capacidade anual de produção de polipropileno. O projeto, dividido entre as unidades do Rio e de São Paulo, é para 2007. Também para 2007 é a expansão em 320 mil toneladas de produtos petroquímicos do complexo da Petroquímica União (PQU) em Mauá (SP). E o consórcio Braskem-Petrobras vai investir US$ 240 milhões em uma fábrica de polipropileno (350 mil toneladas/ano) em Paulínia (SP) também para os próximos dois anos. Grubisich disse que a dinâmica de crescimento do mercado interno de petroquímicos, que, para ele, aumenta até mais de três vezes o crescimento anual do PIB do país, não deixa dúvidas quanto à absorção dessa oferta pela "terceira geração", os transformadores, o que não reduz a importância da expansão para o mercado global. Segundo Gabriel Gomes, gerente do Departamento de Indústria Química do BNDES, o projeto da linha especial ainda está em fase de mapeamento da terceira geração petroquímica, já que ela não se constitui em um segmento uniforme, incluindo ao mesmo tempo uma enorme quantidade de pequenas empresas que fabricam sacarias, baldes e outros artefatos de plástico até gigantes como a Alpargatas, a Tigre e grandes indústrias de autopeças. Gomes disse que a perspectiva é de que os estudos sejam efetivados até o fim deste ano para que o programa seja iniciado em 2006. O Estado do Rio já tem um programa de incentivos fiscais para criar um pólo de termoplásticos em torno da Riopol. A empresa gás-química constituída pelos grupos Suzano, Unipar, Petrobras e pelo BNDES entra em produção este mês. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Plástico (Abiplast), Merheg Cachum, disse que já vem discutindo com o BNDES os problemas da indústria de plásticos e ressaltou que o puro e simples acesso ao dinheiro do banco estatal tem sido o maior limitador da modernização do setor. Segundo ele, cerca de 85% do universo de 8.400 empresas do setor são pequenas e médias, que só podem captar financiamentos do BNDES pela via indireta, com a intermediação de um banco. Segundo ele, o spread bancário por si só já torna inviável a captação por um grande número de empresas. Mas pior ainda é o conjunto de exigências para a concessão do crédito, especialmente a Certidão Negativa de Débito (CND). "A empresa sempre tem algum tipo de problema que torna inviável a obtenção da CND."