Título: Livre para vender seu minério, CSN acelera expansão de Casa de Pedra
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2005, Empresas &, p. B

Mineração Companhia reavalia potencial da mina, que se tornará seu segundo maior negócio

Livre da cláusula de preferência que a obrigava a oferecer o excedente de produção de minério de ferro à Vale do Rio Doce (CVRD), a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) ganha fôlego extra para levar adiante um novo ciclo de investimento de Casa de Pedra, a gigantesca reserva de minério localizada em Congonhas (MG). A meta de Benjamin Steinbruch, principal acionista e presidente da CSN, é transformar a mineração no segundo negócio mais forte da empresa, atrás apenas da siderurgia. A CSN já começou a negociar contratos de longo prazo de fornecimento com siderúrgicas da Europa e Ásia a partir de 2007, afirmou ao Valor Juarez Saliba, diretor de mineração da empresa. Até lá, espera concluir o plano atual de expansão de Casa de Pedra, que prevê capacidade de processar 40 milhões de toneladas, das quais 30 milhões serão comercializados no mercado externo. A produção de 2006 já está totalmente acertada: 18 milhões de toneladas vendidas para siderúrgicas como Açominas e Cosipa. Isso sem contar o "take" fechado com a Mitsubishi, que soma 54 milhões de toneladas em 10 anos. Esse acordo ainda será feito via Vale. Casa de Pedra é considerada uma verdadeira mina de ouro por Steinbruch, apesar de não produzir um grama sequer do precioso metal. Com o reajuste de 71,5% do preço do minério de ferro em 2005 e com a demanda em alta nos próximos anos, o produto vai se converter numa belíssima fonte de geração de receita à CSN. Além disso, Casa de Pedra vai garantir matéria-prima para suportar o crescimento de produção de aço que a empresa vem analisando nos últimos anos e cuja aprovação poderá sair em breve. O volume extra de minério deve variar entre 4 milhões e 7 milhões de toneladas por ano. A ampliação da exploração deve começar em três anos. Ainda não foram estimados o investimento necessário para a realização dessa empreitada. Estudos preliminares feitos neste ano mostram que o total de recursos minerais de Casa de Pedra pode ser até 30% maior que os 4,4 bilhões de toneladas de minério já provados. O plano atual da empresa é processar 1,5 bilhão de toneladas nos próximos 25 anos. "O desenvolvimento da mina foi projetado de acordo com as vendas de minério no futuro, mas seu potencial é bem superior ao 40 milhões que temos já planos de explorar", disse o executivo. As dimensões desta ampliação devem ser definidas até o final deste ano, quando a CSN promete anunciar, enfim, qual de seus projetos siderúrgicos sairá do papel. A CSN tem discutido há tempos a construção do alto-forno 4 em Volta Redonda (RJ) com capacidade de produção de 2,5 milhões de toneladas anuais. Outro plano seu é levantar uma nova usina em Itaguaí (litoral do RJ), para produzir entre 4,5 milhões e 5 milhões de toneladas. A produção de uma tonelada de aço bruto requer cerca de 1,5 tonelada de minério. Enquanto estuda o novo ciclo de crescimento, a CSN dá partida ao projeto estimado em US$ 800 milhões que prevê, na primeira fase, dobrar Casa de Pedra e ampliar o Porto de Sepetiba (RJ), onde o minério chegará através da malha da MRS Logística (ferrovia que passa ao lado da mina) e será escoado para o mercado externo. A fase atual da expansão vai demandar investimentos de US$ 130 milhões nas instalações de beneficiamento e no aumento da frota de carregadeiras e caminhões (capazes de movimentar até 200 toneladas de cada vez). Sepetiba também receberá boa parte do dinheiro, para finalizar, até início de 2006, suas obras. A CSN já obtive algumas das licenças ambientais. Também até o fim do ano a CSN decide-se sobre a usina de pelotização, a ser erguida em Minas Gerais ou no Rio. O projeto pode ser desdobrado em duas unidades, com capacidade total de 6 milhões de toneladas/ano. O custo da obra, de acordo com Saliba, é de cerca de US$ 400 milhões. Ainda neste mês começa a fase de cotação internacional dos equipamentos, que deve durar até seis meses. Os negócios de mineração não devem se restringir à Casa de Pedra. A mina de Bocaina, na cidade de Arcos (MG) também poderá receber investimentos para ampliar a produção de calcário e dolomito, minerais utilizados como fundentes. O calcário no futuro será base de produção de cimento, projeto em fase adiantada na CSN. Avaliada em pelo menos R$ 3 bilhões, Casa de Pedra foi alvo de uma árdua disputa entre Vale e CSN. Nem as famosas igrejas de Congonhas e as imagens de Santa Bárbara e São Cristóvão espalhadas ao longo da mina garantiram a paz dos envolvidos. Durante o processo que julgou o direito de preferência, o Cade (órgão antitruste federal) sugeriu que a Vale vendesse os ativos da antiga Ferteco, hoje incorporadas à mineradora. Isso, caso quisesse manter o acordo de preferência sobre Casa de Pedra. A bilionária mina teve uma origem curiosa. No fim do século XIX, a empresa dinamarquesa A.Thun começou a explorar o local, onde havia uma pequena gruta que serviu de casa para uma paupérrima família de imigrantes. A mina acabou incorporada à CSN em 1946 pelo presidente Eurico Gaspar Dutra. Naquele ano também ocorreu o primeiro carregamento de minério, em trem, para a usina recém-criada.