Título: Mesmo com combustíveis, inflação deve alcançar meta
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2005, Brasil, p. A4

Conjuntura Com sinais de nova deflação no atacado, previsões caem

O Banco Central deve atingir a meta de inflação de 5,1% para o ano, apesar do reajuste dos combustíveis e da retomada da atividade econômica. A valorização do câmbio, que derruba os preços dos alimentos, e o equilíbrio entre oferta e demanda tendem a contrabalançar eventuais pressões inflacionárias, avaliam economistas ouvidos pelo Valor. Esse cenário abre espaço para cortes da taxa de juros na reunião de dois dias do Comitê de Política Monetária (Copom), que começa hoje. "A gasolina não vai causar estragos, porque a queda dos preços dos alimentos está compensando esse efeito. O BC vai atingir a meta mesmo com o reajuste dos combustíveis", diz Fernando Fenolio, da Rosenberg & Associados. A consultoria prevê que o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), utilizado como balizador da inflação pelo governo, atingirá 5,4% em 2005, mas deve rever esse percentual para baixo em breve, provavelmente para 5,1%. "O poder aquisitivo está aumentando de maneira gradual. Não há pressão de demanda", garante Paulo Piquetti, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP (Fipe) . "A demanda não tem forças para puxar a inflação, apesar da massa salarial mais alta", concorda João Carlos Gomes, economista da Federação do Comércio (Fecomércio) no Rio de Janeiro. Ele prevê que o IPCA fechará o ano com 5,3%. Os preços dos alimentos estão em queda desde junho. Os economistas atribuem esse movimento à valorização do câmbio, à queda do preço das commodities no mercado internacional e também às boas condições de oferta e demanda. "A exportação está menos atraente. Sobra mais produto no mercado interno", diz Piquetti, da Fipe. Os economistas chamam a atenção para a queda em carne bovina, mesmo em período de entressafra. Fenolio, da Rosemberg, aposta em novas baixas nos preços dos alimentos no varejo em setembro e outubro, já que as cotações desses produtos continuam cedendo no atacado. A primeira prévia do Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) de setembro, divulgada na sexta-feira, indicou queda de 2,87% para o Índice de Preços do Atacado (IPA) agrícola. Alimentação é o item de maior peso no IPCA, respondendo por 22,16%. Na sexta-feira, a Petrobras anunciou aumento de 10% para a gasolina e 12% para o diesel nas refinarias. Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista do grupo de conjuntura da UFRJ, projeta alta de 0,33% do IPCA em setembro por conta do reajuste. Mesmo assim, projeta 5,05% em 2005, abaixo da meta do BC. Na avaliação de Gomes, da Fecomercio-RJ, o reajuste dos combustíveis nesse momento reduz as incertezas sobre o comportamento da inflação em 2006. "O IPCA pode atingir a meta de 4,5% em 2006, o que abre espaço para a política econômica reduzir os juros", diz. O IPC da Fipe, divulgado ontem, confirmou a tendência de queda dos preços. Na primeira quadrissemana de setembro, período de 30 dias até sete de setembro, o município teve deflação de 0,11%. Em agosto, a queda foi de 0,20%. Os produtos e serviços agrupados na área de saúde subiram 1,07% na primeira quadrissemana de setembro, puxando para cima indicador. Piquetti atribui o movimento aos reajustes dos planos de saúde. Por conta do reajuste dos combustíveis, o economista deve elevar sua projeção de 0,25% do IPC em setembro. "Mas a história da inflação segue sendo contada pelos alimentos", brinca Piquetti. Esse grupo registrou queda de 1,2% no período, fortemente pressionado pelos produtos in natura, que caíram 3,92%. Os preços no comércio varejista na região metropolitana de São Paulo tiveram queda de 0,55% em agosto, segundo pesquisa da Fecomercio de São Paulo. No acumulado de janeiro a agosto, a alta é de 0,67%. O desempenho do IPV de agosto foi influenciado pela queda de 1,34% no grupo supermercado, formado essencialmente por alimentos. (com agências noticiosas).