Título: Preços agora estão alinhados, avalia Petrobras
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2005, Brasil, p. A4

A Petrobras considera que com o aumento de 10% no preço da gasolina e de 12% no preço do óleo diesel, os combustíveis no Brasil estão com preços alinhados aos do mercado internacional, enquanto o barril de óleo cru estiver cotado entre US$ 60 e US$ 70. De acordo com o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, a empresa não leva em consideração as críticas segundo as quais os preços dos combustíveis no país permanecem defasados. "Eu já disse 350 vezes por ano que nossa política é de alinhamento de longo prazo. Não trabalhamos com conceito de defasagem", afirmou. Gabrielli admitiu que a Petrobras levou em conta a situação inflacionária do país ao analisar o reajuste de preços. "Sabemos que a Petrobras, pelo seu tamanho, não pode desconsiderar o que acontece na economia do país", disse, acrescentando que ao se reunir para tratar de mudança de preço a direção da empresa leva em conta os efeitos que isso irá causar em variáveis como a renda das pessoas, a inflação e outras. "Não é uma decisão simples." Segundo especialistas, a Petrobras aproveitou o momento de inflação considerada sob controle para definir o reajuste de preços, que já deveria ter sido feito há muito mais tempo. Sendo a Petrobras uma empresa estatal, o governo teria segurado os preços enquanto eles representavam ameaça ao recrudescimento inflacionário. Gabrielli não admitiu que tenha havido interferência direta do governo na decisão da empresa, mas afirmou que, na condição de acionista majoritário, o governo (representante da União) foi informado do movimento da empresa. "Toda empresa tem influência grande do seu acionista controlador", disse, acrescentando que essa influência se dá por intermédio do Conselho de Administração da companhia. "O Conselho de Administração (da Petrobras) foi informado adequadamente da decisão (de aumentar preços)", acrescentou. O executivo voltou a dizer que é um equívoco examinar o comportamento dos preços dos combustíveis no Brasil com base no comportamento do mercado americano. Ele enumerou sete razões contra esse comportamento, começando pelo fato de o mercado americano ser marcado por um grande número de pequenos produtores e refinadoras, enquanto no Brasil o mercado é "integrado", com uma só empresa responsável pela quase totalidade da produção e do refino. Gabrielli falou após participar do seminário "A Estratégia Brasileira para o Setor de Petróleo e Gás", realizado ontem, no Rio. Na sua palestra, disse que a Petrobras vive "uma situação esquizofrênica", por ser controlada pelo governo e ao mesmo tempo ter cerca de 60% do seu capital nas mãos do setor privado. No mesmo evento, o americano Jim Burkhard, diretor da Cambridge Energy Research Associates (Cera), disse que é necessário "desconfiar sempre" dos consensos. "O consenso agora é que o óleo vai subir por muito tempo, por cinco anos", disse. Ele lembrou que no começo dos anos 1980 o consenso era de que o petróleo chegaria a US$ 100 por barril, ressaltando que em 1986 o óleo estava a US$ 16 o barril. Burkhard destacou o elevado consumo chinês como fator de pressão sobre o preço do óleo e o efeito do furação Katrina sobre a cotação dos derivados..