Título: Oposição diverge sobre depoimento de Palocci
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2005, Política, p. A7

Os líderes da oposição no Senado costuram um acordo com as suas bancadas para adiar a votação do requerimento de convocação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, à CPI dos Bingos. Tucanos e pefelistas, que têm dominado os trabalhos da comissão, estão divididos quanto a um eventual depoimento de Palocci neste momento. O requerimento, de autoria do senador Geraldo Mesquita (PSol-AC), poderá ir à votação nesta semana. Parlamentares como José Jorge (PFL-PE) e Álvaro Dias (PSDB-PR) têm defendido a ida de Palocci por causa das denúncias de que ele recebera R$ 50 mil da empresa de coleta de lixo Leão Leão, quando era prefeito de Ribeirão Preto, entre 2001 e 2002. A descoberta de ligações telefônicas entre o ministro e seu ex-assessor Rogério Buratti, autor das acusações, reforça o argumento daqueles favoráveis ao depoimento. De outro lado, fazendo coro à tropa de choque petista na CPI, estão os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Tasso Jereissati (PSDB-CE). Eles têm mantido uma postura cautelosa em relação a Palocci e, mesmo quando a pressão sobre o ministro atingiu seu pico, evitaram defender a ida dele à comissão. Diante da divisão de opiniões, o presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB), decidiu não colocar o requerimento em votação na sessão de hoje. Ele prefere esperar uma discussão mais aprofundada entre os líderes oposicionistas, que aconteceria entre ontem à noite e hoje de manhã. "Sou tendente a não precipitar a convocação de Palocci e acho que devemos ser cautelosos em relação a ele", disse ontem o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). "É uma atitude extrema e temos muita coisa a fazer antes. Não gostaria de ver o requerimento derrubado, mas existem outras prioridades", completou. Concorda com ele o líder do PFL, Agripino Maia (RN). O senador prefere que, antes de um eventual depoimento, os técnicos da comissão aprofundem a análise dos sigilos bancários da Leão Leão, em busca de indícios do pagamento de propina denunciado por Buratti. "Trazer o Palocci para ele dizer obviedades, antes de construir um novo quadro de evidências, é discutível. Antes da vinda do ministro, é preciso que essa questão seja elucidada", afirmou Agripino. Após uma semana de recesso, a CPI tem dois depoimentos agendados para hoje. Às 11h, falará a radialista e deputada estadual Cidinha Campos (PDT-RJ), que poderá acrescentar informações à cobrança de propina feita por Waldomiro Diniz ao empresário de jogos Carlinhos Cachoeira. Em seguida, está programado o depoimento do advogado Denivaldo Henrique de Almeida Araújo. Amigo de Enrico Gianelli, ex-advogado da Gtech, Denivaldo participou das audiências públicas realizadas pelo grupo de trabalho coordenado pela Casa Civil para estudar a regulamentação dos bingos no país, segundo a assessoria da comissão.