Título: Metron busca solução para concordata
Autor: João Luiz Rosa e Taís Fuoco
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2005, Empresas &, p. B1

As instalações discretas no município de Osasco não lembram em nada o movimento incessante que a fábrica anterior da Metron, em São Paulo, chegou a registrar em 2002. Na época, mais de 400 funcionários movimentam-se pela sede da empresa, instalada em um terreno de 5 mil metros quadrados. Hoje, eles são apenas 32 e ocupam uma área cinco vezes menor. É assim, reduzida, que a fabricante de computadores tenta migrar da concordata para a nova Lei de Falências. Com a mudança, a Metron poderia estipular um prazo mais longo para quitar suas dívidas e ficaria dispensada de depositar os valores em juízo. A empresa está perto de completar dois anos do pedido de concordata, mas não tem condições de quitar seus débitos. A primeira parcela, já vencida, não foi paga. A segunda vence neste mês. O plano de recuperação judicial, elaborado pela RCS Auditoria e Consultoria, foi entregue à juíza Elia Kinosita Bulman, da 4ª Vara Cível de São Paulo, no dia 25 de julho. Agora, a empresa espera a aprovação formal dos credores para começar a implantar o plano. Segundo Leone Picciotto, proprietário da companhia, 42% deles já manifestaram publicamente a intenção de aceitar a proposta. "É um plano longo, bem conservador e pé no chão", afirma Picciotto. O projeto prevê uma carência de quatro anos, ao fim da qual a Metron quitaria 100% das dívidas em cinco anos: 9% do total no primeiro ano, 15% no seguinte, 20% no terceiro ano, 25% no quarto e os 31% restantes no quinto ano. A Metron tornou-se muito conhecida em 2002, quando as vendas superaram a faixa de R$ 400 milhões. Diante da demanda aquecida, a empresa endividou-se para ampliar a produção, mas foi surpreendida pela alta do dólar no período que antecedeu as eleições presidenciais. A moeda americana chegou a ser negociada a R$ 4, enquanto a Metron vendia com base em um dólar a R$ 2,80. "A empresa apoiou-se nos bancos e quis dar um salto muito grande na produção. Foi um erro", reconhece Picciotto. A aproximação das eleições também tornou o mercado financeiro mais difícil. O valor médio dos financiamentos, de R$ 60 milhões, foi cortado para R$ 10 milhões, enquanto o juro chegava a 8% ao mês. "Ficamos sem chão", relembra o empresário. No início de 2003, a Metron tentou encontrar um sócio investidor, mas não teve sucesso. "Tivemos dois interessados - um inglês e um americano -, que chegaram a olhar os números, mas nada foi adiante", diz Picciotto. A companhia pediu concordata em setembro de 2003, aprovada pela Justiça no início de 2004. O maior credor é a Microsoft, por causa do fornecimento de sistemas operacionais, mas a lista inclui empresas como Alfatronic (componentes eletrônicos), Proview (monitores), Solectron (produção terceirizada) e bancos como Sudameris, BankBoston e PiniBank. A dívida nominal (sem correção) é de R$ 82 milhões. Pelo processo de concordata, em setembro de 2004 a Metron deveria ter pago 40% do montante, com juro de 6% a 12%. O pagamento dos demais 60% deveria ocorrer este mês, com juro de 12% a 24%. "Com esse plano, a empresa quebra", diz Jeremias Alves Pereira Filho, advogado da companhia. Enquanto espera o desenrolar do processo judicial, a companhia retoma lentamente a produção, que chegou perto de zero. O suporte técnico foi terceirizado. A Metron chegou a vender computadores em todo o país, para mais de 50 redes de varejo. Hoje, está restrita às redes Sonae, Martins Atacadista e Gimba, além de vender de forma direta (internet e televendas). As vendas mensais ao varejo, que já foram de 25 mil unidades, foram reduzidas para 800 a mil. Somadas às vendas diretas e a projetos corporativos, o volume é de 4 mil a 5 mil máquinas mensais. Agora, com a retomada da demanda, Picciotto acredita que a companhia pode ter chances de voltar ao grande varejo. "O consumidor tem uma lembrança boa da marca, só precisamos quebrar a resistência dos varejistas e fornecedores", diz ele. A maior parte dos fornecedores continua a entregar os produtos, mas sem crédito. Cada pedido exige "uma logística financeira" para que a Metron consiga fazer as comprar à vista, afirma Picciotto. O caminho será longo, prevê o empresário: "No sétimo ano do plano de recuperação, poderemos voltar ao patamar de receita de 2001, de R$ 260 milhões." (TF)