Título: Plano da Varig prevê divisão da companhia
Autor: Cláudia Schüffner e Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2005, Empresas &, p. B2

Aviação Para credores e especialistas a propostas de reestruturação apresentada ontem não trouxe novidades

A Varig deu ontem o pontapé inicial do seu processo de recuperação judicial apresentando o esboço de um plano para pagamento da dívida de R$ 7,7 bilhões, que agora terá que ser apreciado pelos credores que vão formar um comitê no dia 24 de setembro. Mas o plano apresentado ontem à Justiça de forma simbólica foi considerado tímido e sem medidas que apontem como a companhia poderá pagar as dívidas. E para credores, especialistas no setor de aviação e em operações de reestruturação não trouxe muitas novidades. "Me parece mais uma apresentação para cumprir tabela, um corte de 13% da folha, por exemplo, é paliativo a esta altura. A TAM, que tem situação muito melhor, reduziu 15% do quadro em 2003", lembra um consultor do setor. Para ele, seria preciso reduzir a frota e focar em nichos. Outro especialista em reestruturações financeiras concorda que o plano não convence como solução, mas traz medidas para ganhar tempo. Os administradores da Varig estão propondo aos credores uma renegociação global da dívida e alongamento dos prazos de pagamento além de várias medidas para reestruturação operacional da companhia a serem implantadas nos próximos quatro anos, inclusive com demissões de aproximadamente 1.560 funcionários, o equivalente a 13% dos 12 mil empregados da Varig, Nordeste e Rio Sul. "A proposta é um ponto de partida", frisou o presidente do conselho da Varig, David Zylbersztajn. As mudanças previstas no plano prevêem redução de custos de US$ 168 milhões ao ano, ao mesmo tempo em que serão implementadas medidas de gestão que permitirão aumentar a receita atual de US$ 2,2 bilhões em US$ 307 milhões ao ano até 2010. Mesmo assim, a Varig precisará investir mais US$ 135 milhões. Para ganhar fôlego até finalizar as negociações, a companhia precisa de uma injeção de recursos, que pode vir da venda da VarigLog. Essa operação traria US$ 103 milhões entre valor de venda e antecipação de recebíveis como prevê o acordo com o fundo MatlinPatterson, único até agora que apresentou proposta. Para atrair novos investidores os administradores estão propondo a criação de uma empresa que vem sendo chamada de "nova Varig" cujo controle poderá ser vendido por meio de um leilão judicial. Os atuais credores da Varig poderão ter ações da nova empresa caso queiram trocar dívida por valores mobiliários, que podem ser debêntures e recebíveis, entre outros. A idéia é transferir atividades operacionais para a nova empresa, que também terá garantidas algumas receitas que permitam um fluxo de caixa suficiente para operar e pagar compromissos, inclusive pelo uso da marca, à Varig "velha", que também será administrada pelo consórcio que operar o negócio Varig. Essa, por sua vez, deverá carregar o passivo tributário, assim como os créditos a receber da União, de aproximadamente R$ 4,5 bilhões. Os fluxos de pagamento da nova para a Varig, bem como a própria operação da Varig atual, tem que ser suficientes para honrar o serviço da dívida federal, a ser pago em 15 anos. Mas os ativos e passivos das duas empresas, bem como os que ficarem debaixo da Varig "velha" serão definidos somente após discussões com os credores e potenciais investidores. Até 22 de novembro os credores terão que já ter deliberado, em assembléia, sobre o plano de recuperação. Para os credores trabalhistas a Varig propõe escalonar o pagamento até junho de 2006, ou seja, 12 meses a contar do início da recuperação. Para os credores com garantia real e os sem garantia a proposta é de reservar R$ 100 milhões, a serem em 24 meses, o que se calcula permitirá quitar 95% da dívida com as duas classes de credores. A dívida será paga pelo valor de face, sem juros. Com isso a perspectiva é que "sobrem" apenas 5% de credores ou algo em torno de 80 credores - mas que detém dívidas contra a Varig R$ 1,9 bilhão. Ontem a Varig ganhou mais prazo da Justiça americana para pagar dívida de US$ 6 milhões com a International Lease Finance Corporation. A dívida que deveria ser paga no próximo dia 20 poderá ser quitada até 11 de novembro.