Título: Real valorizado tira mercado dos EUA da Volkswagem brasileira
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2005, Empresas &, p. B7

Veículos Subsidiária do Brasil avança na Europa, principalmente com o modelo Fox

A valorização do real inviabiliza a volta da exportação de veículos Volkswagen para os Estados Unidos a partir do Brasil. Ao ser questionado sobre a possibilidade de a América do Sul abastecer os EUA, o principal executivo da marca Volks na Alemanha, Wolfgang Bernhardt, disse: "A moeda brasileira nas alturas e a taxa de juros também alta" tornam o país desfavorável. A Volkswagen está negociando com os sindicatos de trabalhadores da Alemanha medidas para reduzir os custos de produção em Wolfsburg, sede da companhia e ameaça transferir a produção de novos carros para países de custos mais baixos. Portugal disputa o próximo projeto de um utilitário compacto derivado do Golf. Na Alemanha, existe a expectativa de que a Volks anuncie um programa de demissões para os próximos anos logo após as eleições gerais no país, neste domingo. A ameaça da transferência de novos projetos para outras fábricas está sendo usada para pressionar os sindicatos alemães a concordar com um contrato de trabalho mais flexível, incluindo jornada variável, de acordo com o tamanho da produção. Ontem, primeiro dia de apresentação do salão do automóvel de Frankfurt à imprensa, Bernhardt disse que as negociações com os sindicatos alemães estão em curso e ele espera por um acordo até o final do mês. "Hoje em dia não conseguimos exportar a partir da Alemanha sem perder muito dinheiro", disse. "Se não mudarmos isso não seremos competitivos em Wolfsburg", acrescentou. A fábrica da Volks em Portugal está na disputa pela produção de um utilitário esportivo. A companhia descobriu que o custo de produção de cada veículo naquele país ficaria ? 1.000 menor em comparação com Wolfsburg, onde está a mais antiga fábrica da companhia. A redução de despesas de produção faz parte de um ambicioso plano que prevê alcançar economia de ? 7 bilhões até 2007. O veículo utilitário exportivo que pode ser produzido em Portugal é um derivado do Golf europeu, que está na quinta geração. A fábrica brasileira da Volks, instalada em São José dos Pinhais (PR), que ainda fabrica a geração quarto do Golf, exportou o modelo na versão hatch para os Estados Unidos até o ano passado. A Volks não tem fábricas nos EUA. Se de um lado a filial brasileira perdeu o mercado americano, por outro, continua avançando no europeu com a exportação do Fox, iniciada em março. Esse contrato é, em parte, o responsável pelo salto nas exportações de veículos brasileiros, que levou o setor a elevar a previsão de receita com vendas externas neste ano para US$ 10,8 bilhões, elevação de 25% em relação ao total exportado em 2004. Somente as encomendas dos europeus somarão 90 mil das 120 mil unidades do Fox que serão exportadas neste ano. O vice-presidente de vendas no Brasil, Berthold Krueger, estima o envio de quantidade igual em 2006. O Fox esta exposto no salão de Frankfurt e foi apresentado por Bernhardt como um compacto com mais espaço interno e destinado a clientes europeus que querem gastar pouco dinheiro. O Fox europeu custa ? 8,5 mil. A versão vendida no Brasil com motor menos potente e menos acessórios custa R$ 27 mil. O presidente da Volks do Brasil, Hans-Christian Maergner, disse que a exportação desse carro para o mercado europeu "é uma situação única". A empresa sentiu a necessidade de um veículo com as essas características na Europa e aproveitou o modelo que acabará de lançar no Brasil. "Trata-se de um contrato interno da companhia, que não faz sentido a longo prazo." Segundo ele, a estratégia prevê que a subsidiária brasileira abasteça os mercados emergentes. Maergner disse que apesar dos altos volumes de exportação de veículos completos - a previsão é de chegar a 250 mil neste ano -, a montadora registrara perda de 60% no faturamento com exportações de unidades desmontadas. Sao kits que seguem principalmente para a China e Ira. Segundo o executivo, nesse caso, a perda vem da desvalorização do dolar frente ao real.