Título: Gabrielli sugere mudanças para refinarias
Autor: Chico Santos e Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2005, Empresas &, p. B8

Petróleo Presidente da Petrobras diz que Manguinhos e Ipiranga deveriam investir no refino de óleo pesado

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, deu um recado direto, ontem, às duas refinarias privadas do país (Manguinhos e Ipiranga) ao dizer que, nos Estados Unidos, as pequenas unidades independentes que fazem adaptações tecnológicas para processar óleos pesados estão obtendo maior lucratividade. Isso porque o óleo pesado custa de US$ 10 a US$ 12 mais barato que o óleo leve, proporcionando maiores margens de lucro aos refinadores. As refinarias de Manguinhos, no Rio de Janeiro, e da Ipiranga, em Rio Grande (RS), pararam ou reduziram o refino nos últimos meses, alegando que a defasagem dos preços dos combustíveis tornava economicamente inviável refinar petróleo comprado a preços internacionais. Mais tarde, em entrevista, Gabrielli confirmou que sua declaração era um recado, embora não tenha querido falar diretamente. "Eu falei e estou voltando a falar sobre o mercado americano", disse. Gabrielli disse também que a adaptação das refinarias para mudar o mix de petróleo refinado "exige investimentos", e ressaltou ser isso que a Petrobras está fazendo. Segundo ele, a estatal quer chegar em 2010 processando nas suas próprias refinarias 90% de petróleo brasileiro que é majoritariamente pesado. O plano estratégico da estatal para até 2010 prevê investimentos de US$ 8 bilhões em refino, parte na adaptação das refinarias para refinar o óleo nacional. Gabrielli voltou a acenar para as refinarias com a possibilidade de elas utilizarem a estrutura da Petrobras para exportar os derivados que refinam. Com isso, elas teriam, teoricamente, acesso a preços internacionais, alinhados com o preço do petróleo que refinam. As declarações do presidente da Petrobras foram feitas durante e depois do evento "A Estratégia Brasileira para o Setor de Petróleo e Gás". No mesmo evento, antes da fala de Gabrielli, João Carlos França de Luca, presidente da Repsol Brasil (um dos controladores da refinaria de Manguinhos; o outro é o grupo Peixoto de Castro), reclamou de que o reajuste de preços dos combustíveis feito pela Petrobras foi "tardio", prejudicando as refinarias privadas, inclusive a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), do Rio Grande do Sul, na qual a Repsol é sócia da própria Petrobras. Além disso, segundo ele, "o aumento foi oportuno, mas não recompôs os preços". De Luca acrescentou que Manguinhos irá avaliar o impacto do ajuste para decidir sobre uma eventual retomada da produção. Hoje à tarde o conselho de administração da refinaria se reúne para avaliar a situação. Segundo De Luca, o aumento de 10% para a gasolina e de 12% para o diesel nas refinarias ainda parece insuficiente para que Manguinhos retome a produção interrompida em agosto. Ele afirmou que o barril de petróleo teve um aumento de 50% em um ano e por isso o aumento de preços é insuficiente. A Ipiranga não quis comentar o reajuste da Petrobras.