Título: Petróleo preocupa, mas Meirelles diz que país está melhor preparado
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2005, Finanças, p. C8

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem "certamente o Brasil está muito menos afetado do que no passado" pela alta do preço do petróleo, principal matéria-prima mundial. Mas notou que globalmente "uma parte do aumento (do preço) pode ter vindo para ficar, e é preciso tomar cuidado". Reunidas no Banco Internacional de Compensações (BIS, na sigla em inglês), espécie de banco central dos bancos centrais, autoridades monetárias das principais economias do mundo alertaram que os BCs devem redobrar a vigilância contra riscos inflacionários causados pela alta da energia. Houve consenso de que o custo do petróleo desacelera a expansão econômica global e alimentará a inflação, conforme o relato de Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE) e do G-10 - o grupo que reúne os principais bancos centrais de países industrializados. Os participantes do encontro na Suíça avaliam que o atual choque do petróleo deve ser visto de maneira diferente dos anteriores, por ser causado por aumento de demanda, refletindo dinamismo da economia, principalmente a chinesa. O preço do barril subiu 48% este ano. "Não se quer dizer que o preço ficará nesse nível. Pode cair. Mas pode ser que o preço médio do petróleo tenha tido uma alteração estrutural, não se sabe a que patamar", avaliou Meirelles. Além da alta do petróleo com choque de demanda, outra mudança estrutural foi destacada pelas autoridades monetárias: a abundância de liquidez nos mercados internacionais, impulsionada pela Ásia, conforme Trichet. "Está claro hoje que o advento do crescimento chinês está baseado em altas taxas de poupança interna", disse Meirelles. Para o presidente do BC brasileiro, esse aspecto é particularmente bom para o Brasil, porque significa "mercados mais benignos, que cobram prêmios de risco menores". Nesse contexto, os banqueiros discutiram a tendência de taxas de juros baixas no longo prazo. Trichet disse que ainda é preciso entender porque nesse cenário a produtividade de alguns setores continuou "bastante tímida", sem os investimentos necessários - por exemplo, no caso da prospecção de petróleo. Meirelles evitou falar de juros, inflação, expectativas de crescimento da economia, câmbio e outros temas, alegando que estava as vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que amanhã decide o nível da taxa básica (Selic). Ao olhar uma lista de dez perguntas, apontou para uma, sobre o que o Brasil precisaria fazer para reforçar a economia no atual contexto de incertezas. "Ter continuidade e persistência da política econômica", respondeu. Para Meirelles, a economia brasileira já está num ciclo de fortalecimento e não há nada mais a fazer. Reafirmou que a crise política mostrou que a economia é forte e está muito menos vulnerável. "Isso está de acordo com a avaliação dos demais bancos centrais", disse. Ele repetiu também a mensagem de que não se deve cair em tentação "de busca de medidas heterodoxas, fundadas quase sempre em intervenções artificiais do governo no mercado, visando tentar obter ganhos específicos", exemplificando com congelamentos de preços e de depósitos, "toda uma série de coisas que se revelaram desequilibrantes no longo prazo". (AM)