Título: Banqueiros centrais defendem autonomia
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2005, Finanças, p. C8

Reunião do BIS Presidentes de BCs sugerem que Brasil regulamente a independência da autoridade monetária

Dirigentes dos principais bancos centrais do mundo sugeriram ontem informalmente que o Brasil adote a independência do Banco Central como uma das maneiras de frear efeitos de crises políticas sobre a economia, segundo relato de participantes do encontro no Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basiléia, Suíça. Em entrevista coletiva, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE) e do G-10 - grupo que reúne os principais BCs de países industrializados - fez fortes elogios ao desempenho da economia brasileira e defendeu com vigor a tese de independência da autoridade monetária em geral. O debate envolvendo crise política e BC no Brasil teria ocorrido de maneira informal. Foi quando alguns banqueiros passaram a discutir dificuldades adicionais que a economia brasileira passaria por causa da crise política, como prêmio de risco maior nas taxas de juros internas e externas. O relato de quem acompanhou de dentro o debate foi de que eles, baseados no que aconteceu em outros países, que não especificaram, avaliariam que "definitivamente" a independência do BC "consolidaria os ganhos da economia brasileira". Trichet e outros banqueiros centrai teriam destacado que isso seria considerado como uma sinalização "muito importante" de que o Brasil poderia encarar "com tranqüilidade" não só a atual crise, como períodos eleitorais e outras situações turbulentas. Segundo as fontes, o presidente do BC brasileiro, Henrique Meirelles, ponderou que na situação atual o governo não tinha margem para propor a independência da autoridade monetária. Alguns banqueiros voltaram à carga, sublinhando que a autonomia poderia vir não como proposta do governo, e sim como acordo de diversos partidos, inclusive como uma das conclusões da atual crise. Na tradicional entrevista após avaliação do estado da economia global, um jornalista brasileiro indagou ao presidente do BCE se ele concordava que a autonomia do BC no Brasil era melhor para evitar contágio das crises sobre o dia-a-dia da economia. Sem mencionar uma só vez o nome do país, Trichet respondeu: "Nós todos temos a opinião de que autonomia é uma das principais características de bancos centrais e confiamos de que isso está se cristalizando como um princípio global, como isso foi documentado por análises e pesquisas econômicas". O presidente do BCE lembrou que último Prêmio Nobel de economia "insiste muito na importância de independência institucional do banco central para consolidar expectativas e assegurar a consistência das políticas econômicas". Mais tarde, Trichet disse ao jornalista: "Boa pergunta". No embalo, aproveitando a questão de um jornalista japonês sobre o impacto da eleição do fim de semana no país sobre a economia japonesa, o presidente do BCE voltou ao tema: "Independência do BC significa que devemos ser guardiães para todos, para todas as sensibilidades. Não estamos área política". O presidente do BCE insistiu, porém, que na reunião sobre a economia mundial não se falou de crise política no Brasil, mas apenas do desempenho econômico. "Não discutimos o elemento político. Observamos que no caso em particular desta economia emergente (Brasil) o dinamismo da economia foi bastante impressionante, e totalmente independente da questão política. O dinamismo doméstico, assim como as contas externas, são um testemunho de que esta economia está se transformando num ritmo rápido."