Título: Efeito do Katrina sobre o Brasil será modesto
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2005, Brasil, p. A2

O impacto da devastação causada pelo furacão Katrina no sul dos EUA sobre a economia brasileira será modesto, mas o país não vai passar totalmente incólume. Além de levar a alguma desaceleração da atividade econômica americana no segundo semestre, a catástrofe pressionou ainda mais os preços do petróleo. Nesse cenário, a Petrobras anunciou na sexta-feira um reajuste na refinaria de 10% dos preços da gasolina e de 12% do óleo diesel, o primeiro desde novembro de 2004. No entanto, com a inflação sob controle, o aumento não preocupa os analistas e não deve impedir uma queda da Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana. Para o diretor de Pesquisa para a América Latina do WestLB, Ricardo Amorim, o Katrina vai contribuir para uma elevação mais permanente dos preços do petróleo, o que tem algum um efeito inflacionário no Brasil. Esse movimento, porém, não é grave, avalia. Ele acredita que mesmo com o reajuste dos combustíveis o IPCA deve ficar próxima da meta perseguida pelo Banco Central (BC), de 5,1%. Outro ponto importante é que o Katrina vai provocar uma desaceleração da economia americana no segundo semestre, como afirma o diretor de Pesquisa de Mercados Emergentes do Goldman Sachs, Paulo Leme. O banco estima que o PIB dos EUA possa crescer de 1 a 1,5 ponto percentual a menos no período, em taxas anualizadas. O crescimento de 2005 foi revisto de 3,8% para 3,5%. Leme diz, no entanto, que isso é pouco preocupante, devendo ter pouco impacto para o Brasil. Segundo ele, um quarto das exportações brasileiras vai para os EUA. Leme faz também outra ponderação para relativizar a desaceleração dos EUA: a expectativa é de que, após algum desaquecimento nos próximos meses, haja um avanço mais forte na primeira metade do ano que vem, devido aos investimentos em infra-estrutura e na reconstrução de cidades como Nova Orleans. O economista-sênior para a América Latina do Dresdner Kleinwort Wasserstein (DrKW), Nuno Camara, acredita ser possível uma recuperação até mesmo no quarto trimestre deste ano. O banco manteve sua projeção de um crescimento de 3,5% para os EUA. As áreas atingidas pelo Katrina respondem por algo como 3% do PIB dos EUA. Um sinal de que o furacão deverá pouco impacto sobre o Brasil é que nenhum dos três mudou sua previsão para o crescimento da economia brasileira neste ano. Camara aposta em 3,5%, Amorim, em 3,6% e Leme, em 3,25%. Uma dúvida importante é se a catástrofe vai afetar a política monetária nos EUA. A Goldman Sachs acredita que o Fed, o banco central americano, não vai elevar as taxas neste mês devido ao Katrina, para avaliar melhor o impacto da tragédia sobre a economia. Para Leme, isso pode dar ainda mais conforto para o BC brasileiro promover os cortes na Selic a partir deste mês. Amorim e Camara, por sua vez, acreditam que o Fed vai elevar as taxas este mês, de 3,5% para 3,75%. Um impacto do Katrina difícil de medir é sobre as contas externas brasileiras. O petróleo em alta deve elevar as importações do produto, mas, como o país é quase auto-suficiente, o impacto deve ser mínimo, diz Amorim. Já a dificuldade de escoamento da produção americana pelo porto de Nova Orleans pode aumentar as cotações de algumas commodities agrícolas, como a soja, beneficiando o Brasil.