Título: Planalto acomodará pressões sem fazer reforma ministerial
Autor: Cristiano Romero e Rosângela Bittar
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2004, Especial, p. A-14

Terminada a eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se dedicar agora à revitalização de seu governo. Do ponto de vista político, as tarefas imediatas são a unificação da base de apoio ao governo no Congresso Nacional, que saiu das eleições recheada de fissuras, e a retomada e ampliação do diálogo com a oposição. No front administrativo, Lula prepara mudanças pontuais em sua equipe. Já está definida a demissão do ministro da Defesa, José Viegas Filho, mas isso só acontecerá depois das festas de fim de ano. "Por causa da crise militar, vamos deixar passar o fim do ano", contou um ministro próximo de Lula. Viegas ganhará um posto no exterior, provavelmente, em Paris. Ainda não há decisão sobre seu substituto. O mais cotado seria o atual ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo, mas Lula ainda não se convenceu dessa fórmula porque está satisfeito com o trabalho de Aldo e também porque não pretende devolver ao PT a coordenação política. "O presidente acha que o governo já é muito petista", revelou um ministro. Lula desistiu de promover uma reforma ministerial ampla. Na quinta-feira da semana passada, segundo informou um assessor, ele chamou o ministro da Casa Civil, José Dirceu, para comunicar a decisão. Ontem, Dirceu a confirmou. "Reforma ministerial e 2006 não estão na pauta do governo. Pra que reforma ministerial?", indagou Dirceu, quando visitava o comitê de campanha da prefeita Marta Suplicy (PT), em São Paulo. Além de ter dificuldades para demitir amigos, Lula enfrentaria obstáculos para fazer uma reforma ampla. Um dos ministros cotados para deixar o governo - Humberto Costa, da Saúde - saiu fortalecido da eleição municipal. Seu candidato em Recife, o prefeito João Paulo, ganhou a disputa no primeiro turno. Segundo um assessor de Lula, o governo andava insatisfeito com a atuação de Costa na Saúde, mas a adoção de medidas como a instalação das primeiras farmácias populares e a promoção de saúde bucal agradou ao presidente. Outro ministro que estava na corda bamba - Olívio Dutra, das Cidades - será mantido. "Se o PT ganha a eleição em Porto Alegre, fica difícil justificar a substituição de Olívio. Se perde, a demissão parecerá uma punição", disse um ministro antes do anúncio do resultado da disputa. Lula estaria convencido também de que o Ministério das Cidades vem aumentando sua eficiência. "Os resultados em habitação demoram a aparecer", alegou um colaborador do presidente. Lula está disposto a não mexer no Ministério do Desenvolvimento Social, alvo das principais críticas ao seu governo. O ministro Patrus Ananias, depois da vitória do PT em Minas Gerais, conseguiu ter, na semana passada, uma longa conversa com o presidente para acertar formas de atuação. "Lula resolveu ter uma solução na área, mas com o Patrus", contou um assessor. O presidente ainda não sabe o que vai fazer com os prefeitos e candidatos do PT que saíram derrotados das eleições. A preocupação maior é com o destino de Marta Suplicy. Ontem, um ministro informou que está "fora de cogitação" a possibilidade de ela assumir um ministério em 2005. "O problema dos prefeitos derrotados só será tratado depois do Carnaval", revelou. A possibilidade de o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), candidato confesso ao governo de São Paulo em 2006, ir para o ministério também está descartada. Lula continua considerando-o mais útil no Senado, onde ele é líder do governo e a base de apoio ao governo é frágil. A outra grande tarefa do governo para as próximas semanas - a recomposição da base de apoio, devastada no primeiro e no segundo turno das eleições - é necessária para aprovar, ao longo de 2005, medidas que irão sustentar a campanha de reeleição do presidente em 2006. A agenda parlamentar prioritária para votação até o fim do ano inclui a lei que cria as Parcerias Público-Privadas (PPPs), a Lei de Falências, a Lei de Biossegurança e a lei das agências reguladoras. Os últimos dois anos de governo são considerados decisivos para o projeto de reeleição de Lula, e, dos dois, o penúltimo é visto como o mais importante. "Se o governo for mal em 2005, o custo da reeleição aumentará", observou um ministro. Politicamente, o governo vai lidar com as feridas internas provocadas pelas derrotas sofridas pelo PT. Alguns grupos do partido cresceram, outros perderam força. A avaliação que se fazia no governo, antes mesmo da abertura das urnas do segundo turno, era que qualquer que fosse o resultado da eleição em São Paulo, o PT paulista sairia menor na luta interna. O grupo foi considerado incompetente para conduzir a campanha, desde a definição das alianças até a estratégia do conteúdo. O PT gaúcho, que fracassou em Porto Alegre depois de 16 anos, perdeu prestígio. "É preciso dar tempo para decantar a disputa e ver quem são os novos interlocutores do governo", explicou um assessor. Numa demonstração de que vai buscar mais o diálogo a partir de agora, o governo promoverá, com a ajuda da Confederação Nacional dos Municípios, um grande encontro em Brasília com todos os prefeitos eleitos do país. Antes promoverá dez encontros regionais.