Título: Brasileiros são assassinados
Autor: Sabadini, Tatiana
Fonte: Correio Braziliense, 23/04/2010, Mundo, p. 19

Paraguai

Presidente pede estado de exceção para enfrentar conflito agrário em regiões de fronteira

A morte de dois brasileiros em uma fazenda no norte do Paraguai causou uma crise de segurança no governo do presidente Fernando Lugo. O assassinato teria sido parte de uma emboscada do grupo de esquerda radical Exército do Povo Paraguaio (EPP), que luta por terras no interior do país. O Senado paraguaio declarou estado de exceção em cinco departamentos da região, para controlar a situação e reforçar a operação de buscas na área. A fazenda de dois empresários brasileiros teria sido invadida na quarta-feira em Arroyito, no departamento de Concepción. Os seguranças Osmar Valente, 49 anos, da Estância Santa Adélia, e Jari Ravelo, 35 anos, da fazenda Guaraní, chamaram a polícia e saíram em busca dos invasores. No meio da mata, foram surpreendidos por tiros, segundo o jornal paraguaio ABC Color. Um policial e outro capataz também foram mortos, e três pessoas conseguiram fugir. De acordo com a assessoria de imprensa do Ministério de Relações Exteriores, a Embaixada do Brasil em Assunção está acompanhando o caso, mas ainda não tem confirmação oficial de que as duas vítimas sejam brasileiras. O presidente Lugo pediu ao Congresso que colocasse em estado de exceção por 60 dias os departamentos de San Pedro, Concepción, Amambay, Alto Paraguay e Presidente Hayes, na divisa com o Brasil e a Bolívia. A medida permite às autoridades deter suspeitos sem ordem judicial. O Senado encurtou o período para 30 dias e aprovou o projeto, que hoje deve passar pela Câmara dos Deputados. ¿Pedimos que o projeto tenha um tratamento de urgência, pela situação que o país vive nesses cinco departamentos, e ao mesmo tempo pedimos que as Forças Armadas possam ter a liberdade de atuar nessas áreas¿, disse o governante à imprensa paraguaia.

Guerrilha A EPP é um pequeno grupo armado que cresceu nos últimos anos no Paraguai. Ele também é acusado da morte de três policiais, do sequestro de dois fazendeiros e de diversos atentados. O movimento atua entre setores do movimento camponês que lutam pela reforma agrária. Eles exigem que Lugo promova uma distribuição mais justa da terra, principalmente das propriedades que pertencem aos chamados brasiguaios, fazendeiros de origem brasileira que ocupam terras na região fronteira e dominam a produção de soja. Para autoridades paraguaias, o EPP teria ligação com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e um efetivo de cerca de 100 guerrilheiros recrutados e treinados.