Título: Globalização altera folga na Scania
Autor: Marli Olmos, Sérgio Bueno e Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2004, Empresas, p. B-1

Lidar com a diferença nos períodos de férias de verão sempre foi um problema para os setores administrativos nas multinacionais. O ritmo era reduzido de dezembro a fevereiro abaixo do Equador. O oposto acontecia em julho e agosto nas matrizes instaladas no hemisfério Norte. Com a globalização, o problema chegou às linhas de produção. Os 1,5 mil operários que trabalham na linha de montagem da Scania, em São Bernardo do Campo (SP), souberam nestes dias que terão as férias divididas em duas partes. A primeira atenderá à desaceleração natural do mercado brasileiro a partir do Natal. A segunda parte ficou para julho porque somente então haverá menos pressão das encomendas destinadas à Suécia e outros mercados onde começam as férias de verão. Os mercados externos mexeram com as férias coletivas na Scania, que agora chama o instrumento de "férias seletivas". O peso dos pedidos de outros países aumentou com a globalização. No primeiro semestre, 54,8% da produção da montadora de caminhões e ônibus foi embarcada para outros países. Assim, a produção vai parar durante 18 dias neste fim-de-ano e mais 12 na metade de 2005. No ano passado, houve uma parada direta entre meados de dezembro e o fim da primeira semana de janeiro. Segundo porta-voz da montadora, uma paralisação desse tamanho provocaria um desabastecimento na Europa, para onde segue a maior parte das exportações da empresa. Além disso, as montadoras de caminhões não querem correr o risco de parar durante muito tempo com o mercado interno também aquecido. Segundo executivos do setor, a "curva descendente", que tradicionalmente aparece no mercado brasileiro de caminhões antes de outubro, ainda não aconteceu. A busca de soluções criativas para modificar um instrumento historicamente utilizado na indústria automotiva não se restringe à Scania. A Fras-le, fabricante de materiais de fricção instalada em Caxias do Sul (RS), decidiu fazer estoques para garantir fornecimento para as montadoras sem, no entanto, prejudicar o descanso coletivo dos funcionários. Serão dois meses de acúmulo de produção suficiente para nenhum cliente reclamar. O estoque vem sendo formado com trabalho extraordinário aos sábados. (MO e SB)