Título: Mudança põe fim ao período de descanso
Autor: Marli Olmos, Sérgio Bueno e Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2004, Empresas, p. B-1

O Natal terá um sabor diferente para os empregados da indústria automotiva. Habituados a todos os anos passar pelo menos as duas últimas semanas do ano ao lado da família, desta vez os metalúrgicos terão de vestir os uniformes até a véspera das festas. É uma situação incomum. Mas, ao mesmo tempo, um alívio para quem passou os últimos anos descontando férias cada vez que as empresas recorriam à parada coletiva como forma de desovar os estoques acumulados com a retração das vendas. Programar as próprias férias surge como algo novo para o metalúrgico, principalmente o do ABC, que aprendeu a conviver com o descanso coletivo e a lidar com fórmulas como o banco de horas para contornar o excesso de folgas acumuladas na crise. O coordenador nacional do setor automotivo da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Valter Sanches, conta que a recente abertura de 650 novas vagas na Mercedes-Benz previu contratação de pessoal extra para repor os que se ausentarão nas férias que passam a ser marcadas individualmente nos próximos meses. Funcionário da Mercedes há 16 anos, Sanches lembra as inúmeras vezes em que os empregados ficaram devendo férias. "Em 1996, saímos em coletivas três vezes; duas em férias e uma na forma de folgas", recorda. O quadro de hoje é o oposto do que ocorreu no ano passado, quando as montadoras começaram a recorrer às férias coletivas em julho. Em agosto, mais de um terço dos trabalhadores das linhas de montagem do país, um universo superior a 20 mil profissionais, estava em casa. Na véspera de conseguir do governo redução do IPI, os fabricantes de veículos alardearam mais de uma vez que o descanso coletivo era uma forma de adiar a necessidade de demitir. Em 2003, as montadoras eliminaram trabalhos aos sábados, utilizaram banco de horas, deram férias coletivas e, por fim, abriram programas de demissões voluntárias (nessa ordem). Se, para esses operários, a véspera do Natal em outros anos foi angustiante em razão da incerteza de não ter mais emprego na volta, neste ano a apreensão vem da incerteza de poder ou não folgar. Sanches lembra que a indústria pode anunciar férias coletivas com até 15 dias de antecedência. O período mínimo para o descanso coletivo é de dez dias, o que dificulta o caso de parar apenas os cinco dias úteis que este ano separam o Natal do ano novo. (MO)