Título: Montadoras e fabricantes de peças cancelam férias
Autor: Marli Olmos, Sérgio Bueno e Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2004, Empresas, p. B-1

Com o aquecimento da demanda interna e a necessidade de atender ao aumento das exportações, montadoras e fabricantes de peças já começam a cancelar as tradicionais férias coletivas de fim-de-ano. A General Motors adiou as férias para janeiro, a Scania jogou parte do período de parada para julho e a Fras-le decidiu formar estoques para garantir o suprimento das linhas de montagem sem comprometer as férias coletivas dos 2 mil funcionários. Na Mercedes-Benz, a fábrica de caminhões e ônibus do grupo DaimlerChrysler, também foi tomada a decisão histórica de cancelar as férias coletivas, segundo informou um representante dos empregados. A empresa não confirmou a informação. Segundo Valter Sanches, da comissão de fábrica e coordenador do setor automotivo na Confederação Nacional dos Metalúrgicos, haverá uma parada na produção nos cinco dias úteis entre Natal e ano novo que serão descontada do banco de horas dos empregados. A negociação, disse, foi concluída na quinta-feira. A Mercedes acaba de abrir mais 650 vagas para poder atender ao aumento da produção. Com isso, tem 11.500 funcionários na fábrica de caminhões e ônibus de São Bernardo do Campo (SP). Com 2,3 mil empregados, dos quais 1,5 mil trabalham na produção, em São Bernardo, a Scania está fazendo um levantamento das áreas que podem parar no período entre 20 de dezembro e 10 de janeiro. O restante das férias ficará para 11 a 22 de julho, quando a empresa calcula contar com uma folga nos pedidos de exportação, graças ao período de férias no hemisfério Norte. Neste ano, o volume de produção de caminhões e ônibus Scania vai crescer 50%, num total de 15 mil unidades. Também por conta do aumento da demanda, a General Motors, que vem mantendo liderança no mercado brasileiro de carros e utilitários leves, vai adiar as férias coletivas para janeiro, mas, segundo a empresa, o período ainda não está definido. Segundo Luís Antônio Oselame, diretor executivo da Fras-le, fabricante de materiais de fricção controlada pelo grupo Randon, do início de outubro até dezembro a empresa vai acumular sete dias de trabalho extra, aos sábados, para formar os estoques. A operação na Fras-le exige pagamento de horas-extras, onera um pouco os custos da empresa, mas compensa pela motivação e preservação do bom clima interno, assegura o executivo. Em 2002, quando suspendeu as férias coletivas, a companhia detectou queda na produtividade. De janeiro a setembro, a companhia registrou crescimento de 41% na receita líquida. Outras empresas de autopeças que operam no Rio Grande do Sul já decidiram suspender a parada temporária da produção para atender às montadoras. Com 1,5 mil empregados, a GKN, fabricante de semi-eixos homocinéticos de Porto Alegre, decidiu suspender as férias coletivas que vinha concedendo nos últimos cinco anos, informou o diretor de controladoria, Ednilson Reis. A utilização da capacidade instalada está em 100% nos três turnos da GKN. Para atender ao aumento das encomendas, a empresa investiu R$ 160 milhões em uma nova unidade industrial, ao lado da atual, capaz de elevar a capacidade em 20%. Esta será a primeira vez em sete anos que a Dana, um dos maiores fabricantes de autopeças do mundo, vai suspender as férias coletivas no Brasil. Fornecedora de cardans, diferenciais, eixos, componentes de suspensão, transmissão e motores com fábricas em Gravataí (RS), Osasco e Sorocaba, ambas em São Paulo, a empresa tem 4,2 mil funcionários e está operando a 90% da capacidade e prevê faturamento de US$ 550 milhões em 2004, ante US$ 360 milhões no ano passado. "Tenho a impressão de que também não haverá férias no Paraná", diz o diretor regional do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças), Benedicto Kubrusly Júnior. Se for confirmada a previsão, será a primeira vez que isso acontecerá desde a instalação da Renault e da Volkswagen no Estado. Além de o mercado estar aquecido, a unidade da Volkswagen em São José dos Pinhais parou de 11 a 22 de outubro para fazer acertos para aumentar a capacidade de produção. A montadora, que em junho implantou o terceiro turno, não informou em quanto pretende elevar a produção. A Volkswagen Caminhões e Ônibus acaba de instalar o segundo turno de produção na fábrica de Resende (RJ), o que elevou a produção em 40%. Por isso, a empresa ainda não decidiu se poderá dar férias neste fim-de-ano. Boa parte das montadoras avisou aos fornecedores que a produção não será interrompida neste fim-de-ano. Por isso, a indústria de autopeças também decidiu operar normalmente. Segundo fontes do setor, muitas montadoras não tornaram a decisão oficial porque estão negociando com os sindicatos dos trabalhadores. (Colaborou Vanessa Jurgenfeld, de Florianópolis)