Título: Correios investiga nova lista de saques
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2005, Política, p. A6

Crise TCU, BC e PF constituem força-tarefa para identificar beneficiários de recursos da ordem de R$ 12 milhões

A CPI Mista dos Correios investiga uma nova lista de beneficiários por saques das contas das empresas de Marcos Valério de Souza, acusado de operar o pagamento de um mensalão no Congresso. As investigações da comissão apontam para uma relação de quase 800 operações de altos valores feitas no Banco Rural sem a identificação dos sacadores. A soma de saques, depósitos e cheques emitidos acima de R$ 30 mil pelas agências de publicidade de Valério chegaria a R$ 12 milhões, segundo uma amostra preparada pela CPI. Uma força-tarefa composta por especialistas do Tribunal de Contas da União (TCU), Banco Central (BC) e Polícia Federal deve completar a identificação dos novos nomes nos próximos dias, afirmou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator de movimentações financeiras da CPI. Em depoimento à CPI, ontem, a presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, admitiu a existência desses beneficiários ainda não identificados. "Pode ser que esteja mesmo incompleta a relação porque era uma operação humana (identificar os sacadores na boca do caixa). Pode ter havido falhas", disse. Kátia disse que houve mudanças nos procedimentos adotados pelos sacadores. "Até meados de 2003, os saques eram feitos na agências de Belo Horizonte. Depois, passaram a ser feitos em Brasília e São Paulo", disse. A presidente do Rural lembrou que foi o então vice-presidente do banco, José Augusto Dumont, falecido em abril de 2004, quem determinou a identificação dos sacadores pelas agências do banco. "Não era uma exigência legal, mas ele (Dumont) passou a adotar esse procedimento. Foi até excesso de zelo", afirmou. Dumont era o elo entre Valério e os empréstimos. "Ele tinhas relações pessoais com Valério, por quem fomos usados". A executiva admitiu que Valério foi "facilitador" das relações do banco com o governo do PT. Kátia contou à CPI que ela e seu pai, Sabino Rabello, mantiveram três encontros com o ex-ministro da Casa Civil e atual deputado José Dirceu (PT-SP). Numa audiência no Palácio do Planalto, trataram de questões como a resolução de pendências do Banco Mercantil de Pernambuco com o BC e seu controlador, Armando Monteiro. "Conversamos sobre a situação do Mercantil e as possibilidades para os acionistas. Houve proposta de leilão, mas não aconteceu", disse. O Rural detém 22% do Mercantil sob intervenção do BC e negociava com o governo uma solução para receber parte dos créditos gerados com a valorização de papéis cambiais da carteira do banco. Em outra ocasião, durante um jantar de duas horas no hotel Cad´Oro, em Belo Horizonte, Kátia voltou a tocar no assunto, segundo afirmou. Questionada se havia tratado dos empréstimos feitos ao PT, negou. "Nunca mencionamos esse assunto. Não tratamos das dívidas de Marcos Valério", disse. Seu pai, fundador do banco, teria tratado apenas da retomada de loteamentos e da reabertura de uma mina de nióbio do banco. A executiva disse que José Dirceu foi o único membro do governo procurado pelo banco. Em sessão esvaziada por várias atividades paralelas no Congresso, Kátia negou saber dos saques feitos na boca do caixa e disse não ter idéia de que os empréstimos feitos pelo PT e por Marcos Valério serviriam para pagar deputados. "Quando vimos o que tinha (nas operações), ficamos em pânico. Era uma bomba", afirmou. Valério fez 19 empréstimos no Rural no valor total de R$ 53,8 milhões. Mas Kátia disse não suspeitar de irregularidades. " Kátia adotou uma estratégia defensiva e negou várias ligações com personagens centrais do atual escândalo político. Negou relações com o deputado José Mentor (PT-SP), relator da extinta CPI do Banestado, que teria retirado um capítulo sobre irregularidades cometidas pelo Rural no envio de recursos ao exterior por meio das contas CC-5. Também disse desconhecer o doleiro Haroldo Bicalho, preso pela Polícia Federal, mas admitiu que ele foi sócio da RS Empreendimentos, especializada em crédito consignado, antes de o Rural entrar no negócio. Ela negou conhecer a RS Empreendimentos que teria recebido recursos do doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona. Negou ainda ter enviado dólares ao exterior ou abastecido a conta de Duda Mendonça nas Bahamas, por meio do Rural International, do Rural Europa ou do Trade Link Bank. Duda apresentou documentos à CPI que provam o envio.