Título: Imagem de Lula é a pior desde a posse
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2005, Política, p. A8

A pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem mostra que a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi definitivamente afetada pela crise política que já dura quatro meses. Uma das fontes de desgaste foi a corrupção. Pela primeira vez, a metade da população considera que Lula tinha conhecimento das irregularidades envolvendo seus auxiliares no governo e no PT. Os entrevistados disseram perceber a economia também já está contaminada pela crise. O resultado do cenário negativo aponta para que, independente dos adversários, Lula enfrentaria um segundo turno em 2006, mas ainda venceria todos os candidatos, à exceção de José Serra. Se for este o adversário, há empate técnico. A pesquisa feita na semana passada é comparada com os dados da última, de julho deste ano. Nestes dois meses, subiu 15,9 pontos percentuais o índice dos que acreditam que Lula sabia da corrupção e 13,2 pontos os que acham que ele não está agindo como deveria frente às denúncias. Cresceu também 14,2 pontos a avaliação de que aumentou a corrupção no governo Lula. A pesquisa delineia que o tema poderá ser um dos principais focos da campanha do ano que vem. Subiu 22,2 pontos percentuais o índice dos que acreditam que a corrupção no país é hoje maior que no governo anterior. O PT é o mais prejudicado pelas denúncias, seguido do Congresso. Neste aspecto, o presidente ainda está preservado: apenas 13,5% acreditam que ele está envolvido nas denúncias. A aprovação do desempenho pessoal do presidente Lula também caiu 9,9 pontos percentuais e sua rejeição subiu 9,2 pontos percentuais, chegando a 50%, os piores índices desde o início do governo. "Este é o limite para um candidato continuar no páreo. Não conheço ninguém que tivesse aprovação abaixo de 50%, que tenha conseguido se reeleger", afirmou Ricardo Guedes, presidente do Instituto Sensus. A análise do governo Lula como um todo acompanha o desgaste da imagem do presidente. A avaliação negativa do governo subiu quatro pontos percentuais (de 20% para 24%) e a positiva caiu 4,5 (de 40,3% para 35,8%). Este cenário só é melhor que o de junho de 2004, quando o governo atingiu o fundo do poço, que coincidiu com a manutenção do salário mínimo em R$ 260. O desânimo com o presidente Lula e seu governo cria uma situação que parece discrepante. Caiu 5,3 pontos a avaliação de que a economia está no caminho certo. O dado contrasta com a visão dos entrevistados sobre a microeconomia. Melhorou a expectativa dos entrevistados de que sua renda mensal vá aumentar nos próximos seis meses e de que é hora boa para comprar bens duráveis e automóveis. "A estabilidade da economia passa a ser um bem da sociedade e não do governo", afirma Ricardo Guedes, o que pode dificultar a estratégia do presidente de usar a economia como sua principal âncora eleitoral. Segundo Guedes, é possível que na próxima eleição, a estabilidade econômica não transfira votos automaticamente. A pesquisa aponta também que a população traça uma divisão entre a crise e as ações do governo na área social, que desponta como um trunfo do presidente Lula. Melhorou nos últimos seis meses a percepção da população sobre a saúde, a educação, a pobreza, a violência, além do crescimento do emprego. Mas, mais uma vez, a crise contamina o futuro: os entrevistados consideram que a criação de empregos vai piorar até o fim do ano. Diante do cenário negativo, Lula ainda seria reeleito em cinco das seis simulações, apesar de ter agora de enfrentar o segundo turno em todas elas. Apenas em uma, em que disputa com José Serra, haveria empate técnico - Lula com 37,9% e Serra com 37,5%. Em todas as outras possibilidades de segundo turno, em disputas com Geraldo Alckmin, Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso, Heloísa Helena e Ciro Gomes e Itamar Franco, Lula passaria dos 40% e seus adversários não chegariam aos 30%. O fator mais delicado para o presidente, apontado pela pesquisa, é que Lula está caindo paulatinamente e em um primeiro turno não passaria de 34% dos votos, patamar considerado como sendo o eleitorado fixo do PT. "É muito menor do que os 46% de votos que conseguiu no primeiro turno em 2002", afimou Guedes. Outro dado preocupante, por ser também decisivo, é o aumento da rejeição de Lula para 39,3% (era de 30,8%) comparada com a de Serra, que caiu para 38,7% (era de 42,4%). Os dados também apontam para um argumento que pode ser definitivo na escolha do candidato tucano: o governador Geraldo Alckmin já é conhecido por 85,5% do eleitorado mas acumula uma rejeição de 40,7%, considerada alta demais pelo Instituto Sensus. Outra surpresa é o crescimento da candidata do PSOL, senadora Heloísa Helena (AL). Dependendo do cenário, ela pode atingir 8,6% dos votos. A pesquisa também ouviu a população sobre o comércio de armas. Para 72,7% a venda deve ser proibida, contra 24,1%.