Título: Genoino diverge de Delúbio sobre caixa 2
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2005, Política, p. A9

Crise Ex-presidente do PT afirma que recursos para sua campanha ao governo de São Paulo são totalmente regulares

O ex-presidente do PT, José Genoino, apresentou versão distinta daquela levantada pelo ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares, e deu mais um indício à CPI Mista do Mensalão de um provável uso de caixa 2 na campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quando depôs à comissão, Delúbio havia mencionado a existência de dinheiro não-contabilizado "principalmente para São Paulo no segundo turno". Ontem, Genoino negou qualquer irregularidade em suas contas. "Isso não aconteceu. Eu fiz uma campanha modesta em comparação às demais candidaturas a governos estaduais", disse. Ele afirmou ter gasto R$ 6 milhões em sua campanha ao governo do Estado em 2002, mas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registra gastos de R$ 2 milhões. Para chegar aos R$ 6 milhões teria que se somar as despesas de Aloizio Mercadante na campanha ao Senado (R$ 710 mil) e aquelas feitas pelo comitê estadual em 2002 (R$ 3,4 milhões). O deputado Moroni Torgan (PFL-CE) insistiu na questão junto a Genoino. "Porque então o Delúbio diz ter pago por fora a eleição de São Paulo no segundo turno?", perguntou. O ex-presidente petista manteve a palavra: "Para a campanha de São Paulo não foi". Torgan prosseguiu. "É evidente que ele jogou para a sua campanha o caixa 2 do presidente Lula. Se o álibi do dinheiro caiu por terra, então foi para a do presidente", disse o pefelista. Genoino preferiu não se posicionar sobre a declaração do deputado. "Esse raciocínio é de responsabilidade do senhor", afirmou. Os dez minutos de perguntas de Torgan foram os mais complicados para Genoino durante as seis horas de depoimento. O ex-presidente do PT foi tratado por vários deputados com deferência e muitos reiteraram a confiança na boa índole do petista. O clima favorável a Genoino foi tamanho a ponto de três parlamentares presentes na lista de possíveis cassáveis pelo Conselho de Ética irem até a sala da CPI para cumprimentá-lo. Sem cerimônia, João Paulo Cunha (PT-SP), Professor Luizinho (PT-SP) e Paulo Rocha (PT-PA), sacadores das contas do empresário Marcos Valério, foram abraçá-lo em meio ao depoimento. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), fez questão de participar do depoimento. Pouco visto nas sessões das CPIs, o senador foi à comissão fazer um discurso em desagravo a Genoino. Mas fez duras críticas à atuação do petista à frente da presidência do partido. "Não vejo você responsável por tudo isso. Mas a sua omissão foi um erro político", disse Mercadante. "Nada justifica o que foi feito na tesouraria do partido. Quem autorizou? Por quê? Acho inaceitável e vamos pagar um preço caro e temos de pagar mesmo. Os erros foram muito graves", completou. A condução da cúpula do partido durante o governo Lula também foi criticada pelo senador: "O PT não deveria ter tentado crescer como fez. Foram atos incompatíveis com os nossos valores". Genoino concordou com o companheiro de partido. Disse acreditar na necessidade de o partido definir critérios para o crescimento: "O partido tinha de manter certas características. Tenho consciência das minhas responsabilidades". O clima favorável a Genoino se intensificou ainda mais depois de uma tentativa do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) constranger o depoente. O parlamentar nem integra a CPI mas, no início da sessão, sentou-se no fundo da sala da CPI acompanhado do tenente-coronel reformado do Exército Lício Augusto Ribeiro, combatente na Guerrilha do Araguaia. Genoino foi preso e torturado durante os conflitos. Avisado pelo senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) sobre a presença do ex-militar, o presidente da CPI, Amir Lando, enviou dois pedidos a Bolsonaro para ele se retirar da sessão. Sem sucesso, Lando foi até a cadeira de Bolsonaro e o convidou a se retirar. No caminho da porta, o deputado hesitou em deixar a sessão. Lando gritou: "Sai agora! Agora! Sai agora!", disse. A CPI se revoltou. Parlamentares tanto da oposição quanto do governo se posicionaram de forma incisiva contra a atitude de Bolsonaro, que justificou a presença do ex-militar como quem "levava um amigo" à sessão.(Colaborou Caio Junqueira, de São Paulo)