Título: Para Aldo, Dirceu paga mais pelas suas virtudes
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2005, Política, p. A9
Ao depor ontem no Conselho de Ética como testemunha de defesa do deputado José Dirceu (PT-SP), o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) disse que o ex-chefe da Casa Civil "paga muito mais por suas virtudes do que pelos defeitos" e que sempre acreditou que Dirceu seria "o alvo preferencial da oposição" por tudo o que ele representaria no imaginário como um dos maiores símbolos do PT e do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aldo disse que nunca teve notícias nem acreditava que a base do governo no Congresso e a aprovação de projetos tenha ocorrido contra o pagamento de deputados, o "mensalão", de acordo com a denúncia do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). A mesma linha de argumentação foi adotada por outro ex-ministro (Ciência e Tecnologia) de Lula arrolado como testemunha de defesa por Dirceu, o deputado Eduardo Campos (PSB-PE). "A aprovação (dos projetos) sempre se deu por ampla negociação, inclusive com a oposição", disse Eduardo Campos. Aldo destacou que algumas matérias só foram aprovadas porque tiveram o apoio da oposição, como a reforma previdenciária. " Nunca acreditei, não acredito e não pode ser provado", disse Aldo sobre o mensalão. O ex-ministro disse que a aprovação de cada projeto "era um parto doloroso", cuja negociação entrava pela madrugada. Sobre as nomeações, Aldo disse que "em última instância quem decidia era o ministro (de cada Pasta)". E que nunca esteve em reunião na Casa Civil da qual tenham participado o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-secretário-geral da legenda Sílvio Pereira. Nem mesmo cruzou com eles nos corredores do Planalto. Admitiu que recebeu o presidente da sigla, José Genoino, em seu gabinete, assim como o deputado Roberto Jefferson. "Jefferson sempre se comportou com elevada lealdade", disse. "Nunca presenciei algo de anormal na agenda" de José Dirceu. Segundo Aldo, sua relação com Dirceu foi marcada pela "admiração" e "por grandes divergências políticas". A emenda que permitia a reeleição para as presidências da Câmara e do Senado foi uma dessas divergências - Dirceu, a favor, e ele contra. "O presidente Lula tomava decisões tendo como referência José Dirceu, mas nem sempre sua opinião prevalecia". disse. Para Aldo, Dirceu teve sua "cultura política forjada na clandestinidade", o que teria lhe dado uma "áurea de superpoderes que não existia na realidade". Aldo cobrou que as CPIs identifiquem a origem dos "empréstimos" ao PT e negou que o PCdoB em algum momento tenha recebido dinheiro do Partido dos Trabalhadores.