Título: Kroll sustenta que investigou Casseb e Gushiken antes de posse no governo
Autor: Raquel Balarin
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2004, Empresas, p. B-2

O diretor da Kroll para a América Latina, Andrés Antonius, diz que membros do governo como o ministro Luiz Gushiken e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, foram alvos de investigações da empresa antes de se tornarem membros do governo. "Essas pessoas tinham outras atividades que envolviam as teles. Mas foram eventos que transcorreram antes de sua entrada no governo", disse Antonius, em entrevista exclusiva ao Valor. Ele não quis comentar os rumores sobre uma possível investigação também sobre o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Apesar da negativa do diretor da Kroll, a Polícia Federal (PF) sustenta que tem em mãos documentos que comprovariam que a Kroll deu continuidade às investigações mesmo depois que Gushiken e Casseb assumiram cargos no governo. E que as investigações teriam envolvido ações ilícitas. "Subcontratar outra empresa para fazer grampo ou para obter a declaração de renda não isenta a Kroll", disse um advogado criminalista. Contratada pela Brasil Telecom (BrT) para investigar uma de suas acionistas, a Telecom Itália, a Kroll foi denunciada em julho, quando vieram à tona informações sobre relatórios que a empresa teria produzido, além de descrições de encontros com o controlador do grupo Opportunity, Daniel Dantas. O empresário há anos trava disputas com os italianos e com os fundos de pensão patrocinados por estatais. Na quarta-feira passada, a PF deflagrou a Operação Chacal, em que quase uma centena de agentes realizou mandados de busca e apreensão em seis cidades do país. Na operação, cinco executivos da Kroll foram presos. Até o fim da manhã de ontem, eles não haviam sido liberados. Para Antonius, da Kroll, a "ferocidade" da ação contra a Kroll é fora de proporções. "Desde que o caso veio à tona, em julho, dissemos que estávamos à disposição para esclarecimentos. Ninguém nos procurou. E de repente um grupo de policiais entra em nosso escritório, aponta metralhadoras para mulheres grávidas e estoura portas de vidro." Para o diretor da Kroll, um mexicano que mora em Nova York, as investigações da Polícia Federal não estão bem fundamentadas e não têm evidências de operações ilícitas. Antonius sustenta que os equipamentos apreendidos no escritório da empresa são usados para detectar grampos - e não executá-los. A empresa de investigações, que já fez trabalhados envolvendo Enron, Saddam Hussein, PC Farias e Parmalat (contratada pelo governo italiano), iniciou na semana passada uma série de contatos com seus clientes para explicar a situação e tranqüilizá-los. Muitos temem que dados sigilosos sobre investigações em curso venham à tona por conta das apreensões feitas pela Polícia Federal. "Nossos advogados garantem que a polícia não pode utilizar informações não-relacionadas a este caso", afirma Antonius.