Título: Daniel Dantas nega proximidade com Dirceu e financiamento ao PT
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2005, Especial, p. A14

O banqueiro Daniel Dantas nega qualquer vinculação com José Dirceu e integrantes do PT. Segundo seus assessores, o primeiro encontro que ele teve com Dirceu, no dia 4 de maio de 2003, ocorreu por iniciativa do ministro. Dantas nega também que tenha financiado o PT em 2004, como sustentam vários integrantes do próprio governo Lula. Na primeira conversa com Dantas, Dirceu teria dito que o "problema" do Opportunity com os fundos deveria ser resolvido pelo banqueiro com o presidente do BB, Cássio Casseb. Dantas teria dito, então, que havia um conflito de interesse porque Casseb tinha sido conselheiro da Telecom Itália, uma das partes envolvidas no conflito societário da BrT. Na mesma conversa, Dirceu teria afirmado, segundo assessores de Dantas, que o "problema" é que os fundos de pensão queriam mandar na BrT. As conversas com Casseb, por seu turno, não prosperaram. Na avaliação do banqueiro, o que o governo Lula queria, desde o início, era abrir caminho para a Telecom Itália assumir o controle da BrT. A pista teria sido dada pelo próprio Lula, no dia 28 de maio de 2003, num discurso proferido durante seminário sobre fundos de pensão. "Eu, por exemplo, acho que os fundos de pensão, no mundo inteiro, deveriam ter uma visão de solidariedade maior que o Citibank, por exemplo, maior que um banco privado", disse o presidente. Dantas entendeu que a referência ao Citi não foi uma coincidência. Os fundos e o banco, por meio do Opportunity, que cuidava de seus interesses na BrT, estavam no meio de uma disputa acirrada. Quase dois meses antes do discurso de Lula, já preocupada com o posicionamento do governo sobre o assunto, Mary Lynn Putney, então diretora-gerente de "private equity" do Citi em Nova York, mandou carta ao ministro Palocci, defendendo seus investimentos na BrT e elogiando a parceria com Dantas. O banqueiro acusa o governo de ter intimidado o Citi e a BrT de duas formas. A primeira, tirando o Citi da emissão de títulos no exterior. A segunda, dificultando a concessão de crédito (para investimento em telefonia móvel), por meio do BNDES, à BrT, empresa com a segunda melhor classificação de risco do país. O crédito, admitem assessores de Dantas, saiu depois, mas demorou. Dantas diz, por meio de sua assessoria, que só houve trégua, na briga com o governo, quando as três operadoras fixas se reuniram para tentar comprar a Embratel. Durou pouco porque, segundo ele, por motivos até hoje não explicados, a Telmex, do mexicano Carlos Slim, comprou a Embratel, com o suposto apoio do governo brasileiro, por valor inferior ao oferecido pelas companhias de telefonia fixa que operam no Brasil. Ele não faz referência, no entanto, ao fato de que a legislação impedia a compra da Telemar por essas empresas. Dantas sustenta também que o Citi rompeu com o Opportunity, destituindo-o da gestão do CVC estrangeiro, por pressões feitas pelo governo. Essa versão é cabalmente desmentida pelo Citi, que só fez a destituição depois de ter constatado que estava sendo passado para trás na operação de venda da Telemig. O Citi pede, na Justiça americana, indenização de mais de US$ 300 milhões ao Opportunity. Dantas diz que o acordo da "put", que aparentemente só traz benefícios para o Citi - os fundos são obrigados a comprar com sobrepreço de 240% as ações do banco, caso elas não sejam vendidas conjuntamente com os fundos até novembro de 2007 -, teria uma "contra-put": a venda do controle da BrT à Telemar. Essa versão não leva em conta que, se os fundos não tivessem conseguido comprar a participação do Citi, o que de fato teria ocorrido é que as ações que eles, fundos, têm hoje na BrT teriam virado pó. A Telemar, por seu turno, nega a história de uma "contra-put" para adquirir a BrT. O que teria acontecido é que a Telecom Itália, em determinado momento, procurou sócios da Telemar para oferecer suas ações na BrT. Insistiu para que eles apresentassem uma proposta por escrito. A Telemar reagiu ponderando que não dava para fazer oferta por um ativo que ela não conhecia. Poucos dias depois, eles foram surpreendidos por declaração da Telecom Itália de que a Telemar queria comprar a BrT. A fusão não é permitida pela legislação vigente, mas Dantas acredita que era isso que estava em jogo até a explosão dos escândalos recentes. Segundo seus assessores, o caso Gamecorp (investimento de R$ 4,5 milhões da Telemar na empresa que tem entre seus sócios um dos filhos de Lula), o mensalão e o acordo da Telecom Itália com o Opportunity impediram que a manobra acontecesse. Para a Telemar, a oferta dos italianos já teria sido parte de jogo armado por Dantas. Da mesma forma como ele teria feito na história da Gamercorp. Foi Dantas quem fez primeiro uma oferta pela Gamecorp. A Telemar, que já tinha perdido para Dantas a disputa pelo iG, entrou na briga por conteúdo de jogos para a companhia de celular, e quando fechou a compra, foi surpreendida pela notícia, divulgada pelo concorrente, dando à operação um tom de negócio suspeito.