Título: Bradesco coloca Scopus à venda e avalia propostas para a CPM
Autor: Raquel Balarin e Ricardo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2005, Empresas &, p. B1

Tecnologia Banco confirma cartas a interessados, mas diz que objetivo é avaliar empresas

O Bradesco, maior banco privado do país, está colocando à venda a Scopus, que dá assistência à sua rede de auto-atendimento. A CPM, outra empresa de tecnologia da qual o banco é minoritário, com 49%, também pode ter seu controle alienado. Potenciais compradores já começaram a receber cartas convidando-os a fazer propostas pelas duas empresas. Os processos estão sendo realizados separadamente. No caso da Scopus, empresa com faturamento médio anual de R$ 200 milhões, uma possível alienação está sendo coordenada pelo próprio Bradesco, com a executiva Denise Pavarina de Moura à frente. No caso da CPM, que tem faturamento médio anual de R$ 500 milhões, foi contratado o banco de investimentos Goldman Sachs. A CPM é controlada pela IT Partners, empresa que tem entre seus sócios fundos de participação em empresas do Deutsche e GE Capital, entre outros. Foi o Deutsche quem contratou o Goldman, segundo o Valor apurou. O vice-presidente do Bradesco, José Luiz Acar Pedro, confirmou a contratação do Goldman, mas ressaltou que o objetivo é apenas o de fazer uma avaliação dos vários negócios da CPM, entre eles o de desenvolvimento de softwares. "Estamos vendo quanto vale cada empresa. Após o processo de avaliação é que será definido se interessa ou não a alienação. Tudo é muito embrionário", disse. Fontes próximas ao negócio afirmaram que um extenso livro com informações sobre a CPM foi distribuído a potenciais interessados, dando a eles um prazo de 30 dias - até a segunda semana de outubro - para que sejam feitas propostas indicativas. Os valores não são definitivos. A partir deles é que seriam estabelecidos os termos da venda. O Bradesco responde hoje por 30% a 35% do faturamento da CPM. "Embora exista a possibilidade de venda de apenas uma parte, a indicação que temos é de interesse em 100% da empresa. A CPM é uma das únicas grandes companhias locais e desperta o apetite dos estrangeiros", informou uma das fontes. No caso da Scopus, Acar fez questão de ressaltar que a empresa tem dois grandes negócios: desenvolvimento de tecnologia e prestação de serviços. "A área de desenvolvimento é estratégica e não está nem mesmo sob avaliação", explicou. Ele preferiu não dar detalhes sobre a operação, mas o Valor apurou que empresas como HP, Procomp, Unisys e IBM receberam correspondência solicitando propostas indicativas - cujo prazo de entrega termina em três a quatro semanas. Como a participação do Bradesco no faturamento da empresa beira os 50%, uma das idéias é que o banco feche um contrato de longo prazo, garantindo a receita para o novo comprador. A Scopus foi constituída em 1975 e é integralmente controlada pelo Bradesco. A companhia possui uma unidade de serviços que oferece suporte técnico para os computadores do banco e outros clientes e uma unidade de soluções, que desenvolve e implementa projetos de tecnologia. Além disso, é responsável pelo ShopFácil, portal de comércio eletrônico. Fundada em 1982, em plena reserva de mercado, a CPM passou às mãos do Bradesco três anos depois, quando o banco comprou 50% do negócio. Em 2000, o Deutsche Bank, por meio de fundos de investimentos, adquiriu 51% do capital e o Bradesco ficou com os outros 49%. O portfólio da companhia inclui projetos de instalação e manutenção de servidores, armazenamento de dados e redes corporativas, integração de sistemas, terceirização de tecnologia, fábrica de software e consultoria. Tanto Scopus como CPM já foram alvo de boatos sobre uma possível aquisição em diversas ocasiões. Os candidatos são sempre grandes multinacionais que oferecem infra-estrutura e serviços de tecnologia e possuem forte atuação no setor bancário. Uma delas é a IBM, que tem no Bradesco um de seus maiores clientes no país. No início do ano, a IBM contratou Elio Boccia para assumir a área de desenvolvimento de novos negócios. Segundo executivos do mercado de TI, Boccia, que nos últimos 12 anos foi diretor do Unibanco responsável pela área de tecnologia da informação, dispõe de US$ 200 milhões para aquisições estratégicas no Brasil. Além disso, no ano passado, o presidente da IBM no Brasil, Rogério Oliveira, declarou publicamente que a companhia planeja realizar aquisições no país. Outra candidata natural é a HP, que no passado já chegou a negociar a compra da CPM, sem sucesso. Por fim, existe a possibilidade de a CPM ser negociada com outras empresas nacionais. O maior obstáculo é a falta de caixa, mas um grupo de empresários pressiona o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para que o governo entre com uma participação no negócio, tornando viável que o controle de grandes empresas de tecnologia fique no país. Foi o caminho que o BNDES escolheu para aportar R$ 40 milhões na fornecedora de softwares Microsiga, abrindo portas para a saída do fundo de investimento Advent International e para a compra da rival Logocenter. A fusão originou a holding Totvs. Neste momento, o mercado brasileiro de tecnologia parece estar maduro para aquisições envolvendo o setor de tecnologia. Além do interesse de multinacionais, os próprios empresários parecem dispostos a seguir o caminho da consolidação. O sinal mais claro disso virá de um estudo encomendado pela Associação Brasileira das Companhias Exportadoras de Softwares e Serviços (Brasscom) à consultoria AT Kearney para mostrar o potencial do Brasil como mercado exportador de software. Com previsão de ser divulgado nas próximas semanas, o trabalho traz como uma de suas conclusões a necessidade de fomentar fusões e aquisições na área para que as empresas brasileiras tenham porte para disputar contratos internacionais.