Título: Quanto mais, melhor
Autor: Adriana Cotias
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2005, EU &, p. D1

Resgate do C-Bond e oferta de novos papéis da dívida brasileira no exterior renovam interesse pelos Fiex como alternativas de longo prazo

O resgate antecipado do C-Bond - o mais popular dos títulos da dívida externa brasileira renegociada - e uma nova rodada de emissões de bônus do Tesouro podem renovar o interesse pelos Fundos de Investimentos no Exterior (Fiex) como alternativa de longo prazo. Apesar de as carteiras apresentarem fraco desempenho no ano, com perdas acima de 11%, a percepção dos gestores é de que com a liquidez melhor distribuída em vários vencimentos haverá boas oportunidades de deslocamento de recursos nos diversos papéis emitidos pelo Brasil no mercado internacional. O pagamento do C-Bond vai movimentar US$ 1,25 bilhão em outubro e já estava praticamente sentenciado. Em agosto, o Tesouro havia tirado de circulação US$ 4,4 bilhões em dívida velha, numa operação de troca com o A-Bond, papel com vencimento em 2018 e amortizações a partir de 2009. Na semana passada, a reabertura da captação no Global 2025, de US$ 1 bilhão, apenas aguçou o apetite dos investidores. A demanda superou em três vezes a oferta. O papel que chegou a valer 88,8% do valor de face em abril, no período mais agudo da crise política, tem oscilado na casa dos 120%. Agora, a equipe econômica acena com o lançamento de novos bônus. Na sexta-feira, o secretário-adjunto do Tesouro, José Antônio Gragnani, informou que avalia a oportunidade de emitir títulos em reais, dentro da política de financiamento da dívida externa traçada para o biênio 2006-2007. A reabertura do Global 2025 foi uma antecipação do planejamento do ano que vem, uma vez que o governo concluiu o cronograma de captações de 2005. O fim do C-Bond, por sua vez, retira do mercado um título que deixou de ser referência para a medida do risco-Brasil, o prêmio pago acima dos títulos do Tesouro americano. "O C-Bond já vinha perdendo liquidez em função das amortizações semestrais e o Global 40 passou a ser o título mais negociado", diz o estrategista-chefe da SulAmérica Investimentos, Paulo de Sá. "Acaba-se, agora, com o ranço de o Brasil ter no mercado um papel de dívida renegociada e ficam títulos novos, de prazos mais longos." A nova captação pelo Global 2025 tende a abrir uma frente adicional de giro de ativos para os administradores de Fiex. "A troca vai permitir que o gestor tenha mais prazos com alguma liquidez para operar e escolher que pedaço da curva de juros (as taxas entre os vários vencimentos) faz sentido para sua percepção de risco e retorno", cita o chefe da área de Renda Fixa do Santander Banespa, Fabiano Gomes. Para o gestor da Unibanco Asset Management (UAM), Diego Pedote, à medida que há uma melhor distribuição no fluxo de pagamentos - o cronograma de desembolsos de juros e amortizações por parte do Tesouro -, a percepção do risco de crédito dos bônus que compõem as carteiras dos Fiex é igualmente favorecida. "Isso reduz o risco-Brasil e, de quebra, o governo alonga a dívida com um custo mais baixo." Num primeiro momento, as iniciativas do Tesouro Nacional têm, entretanto, repercussão limitada sobre a rentabilidade dos Fiex, que vêm sendo diretamente afetadas pela desvalorização do dólar em relação ao real. Isso ocorre porque embora os ativos sejam em moeda estrangeira, as movimentações e as cotas são em reais. Em síntese, a fração do patrimônio que cabe ao investidor acaba refletindo tanto a variação dos títulos soberanos quanto os vaivéns do câmbio. Neste ano, as carteiras de Fiex no varejo apresentam, na média, perda de 11,35% até o dia 8, segundo dados do site Fortuna, acompanhando o comportamento do dólar, que recuou 12,61%. No mesmo intervalo, o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, o juro usado nas transações do interbancário) rendeu 12,80%. Num horizonte mais amplo de tempo, esse tipo de comparação acaba sendo mais vantajosa para os fundos de dívida. Desde 1999, as cotas acumulam valorização de 185,03%, considerando-se os fundos abertos e exclusivos, ante variação de 164,70% do CDI e 29,67% do dólar. O presidente da BB DTVM, Nelson Rocha Augusto, chama a atenção para a qualidade da gestão da dívida externa brasileira. Num cenário que combina inflação em queda, política monetária conservadora e balanço de pagamentos em ordem, ele acredita que o Brasil caminha para ter as suas notas de risco de crédito elevadas pelas agências internacionais de classificação. "A continuar nesta rota e com o apetite dos investidores estrangeiros pelos títulos brasileiros, em algum momento o país será avaliado como grau de investimento." Queda de risco-Brasil e valorização dos papéis emitidos pelo governo traduzem-se em ganhos para as carteiras de Fiex. A transição até a classificação de "grau de investimento" dos papéis brasileiros pode oferecer oportunidades, mas sempre haverá a incógnita da variação do câmbio. Para Rocha Augusto, esse tipo de investimento é recomendado para quem tem passivos em dólar. Como exemplo ele cita que tomar recursos no mercado americano por dez anos a uma taxa de 4,10% compensa assumir um ativo brasileiro que garanta um retorno de 8,5% ao ano pelo mesmo prazo. Sá, da SulAmérica considera que, num momento em que a liquidez internacional é abundante, os papéis emitidos por países emergentes continuarão a ser beneficiados. Na ponta do lápis, Pedote, da UAM, estima que a desvalorização do dólar tende a anular os ganhos dos bônus soberanos ao longo do ano. "Quando se leva em conta o nível do juro brasileiro, esse não é dos investimentos mais atrativos", diz. "Mas, no longo prazo, funciona como política de diversificação e de proteção mais interessante do que um fundo cambial." Os Fiex não são ainda uma opção muito conhecida do investidor brasileiro. De acordo com levantamento do site Fortuna, hoje há 22 carteiras no mercado. Na avaliação de Marcelo D'Agosto, do Fortuna, isso ocorre porque há pouca flexibilidade para os gestores. Ele avalia que se o governo permitisse a compra de títulos públicos e privados emitidos em outros países, os fundos seriam mais atraentes. Hoje, há um limite de 20% para aplicar em ativos que não sejam papéis da dívida externa brasileira.