Título: Açúcar sobe quase 50% em um ano em NY
Autor: Mônica Scaramuzzo, Cibelle Bouças e Fernando Lopes
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2004, Agronegócios, p. B-8

No 6º mês consecutivo de quedas das cotações dos grãos (soja, milho e trigo) no mercado internacional, sobraram como alento para a balança comercial brasileira as valorizações do açúcar e do suco de laranja em outubro, dois importantes itens da pauta de exportações do país. De acordo com levantamento do Valor Data, com base nos preços médios mensais dos contratos de segunda posição de entrega negociados nas bolsas de Chicago e Nova York, entre as principais commodities transacionadas pelo Brasil, também tiveram queda o café, o cacau e o algodão. As boas notícias para a balança vieram de Nova York. Sustentados pelas perspectivas de déficit mundial por conta da menor produção da Índia, e pelo maior volume de álcool negociado no mercado externo, o preço médio do açúcar fechou outubro 4,4% acima da média de setembro. Nos últimos doze meses até outubro, o salto chegou a 48,5%. Mesmo com produção recorde no Brasil, estimada em 27 milhões de toneladas, a quebra indiana, por conta de problemas climáticos, e a maior participação do álcool no mix brasileiro de produção, o açúcar seguirá oferecendo suporte às cotações. Conforme Alexandre Mourani, da Ágora Senior, a produção de álcool enxuga a oferta excedente de açúcar do mercado. Os preços do açúcar chegaram em outubro a romper a barreira dos 9 centavos de dólar por libra-peso, mas voltaram a ceder com a entrada de fundos e especuladores. O maior pico do mês foi no dia 12, quando as cotações bateram 9,36 cents por libra-peso. No caso do suco de laranja, o preço médio de outubro foi 4,25% superior ao de setembro em Nova York, basicamente em virtude dos danos à citricultura da Flórida provocados pela recente passagem de furacões. Nos últimos doze meses, a valorização chegou a 16,2%, sendo que até agosto esse tipo de variação andava em terreno negativo. Segundo as indústrias exportadoras, os efeitos desses aumentos são limitados para o Brasil porque a maior parte dos embarques do país segue para a União Européia. E segundo Michael McDougall, da Fimat Futures, ainda que os furacões tenham tido reflexo direto na produção americana, a euforia com a forte elevação de preços já se dissipou em razão dos elevados estoques mundiais no mercado. O café, apesar da leve queda de 0,4% do preço médio em outubro em Nova York - provocada pelas chuvas favoráveis às lavouras brasileiras -, ainda encontra suporte em previsões de déficit mundial. No intervalo de 12 meses até outubro, a alta acumulada ainda chega a 21,39%. Conforme McDougall, a entrada da safra do Vietnã, estimada em 1 milhão de sacas, poderá conter novas elevações de preços. Ainda em Nova York, as boas perspectivas para a colheita americana, de quase 20 milhões de fardos, voltaram a derrubar as cotações do algodão. No mês passado, a cotação média da fibra caiu 6,29%, em parte por conta dos baixos embarques semanais americanos, explicou Fernando Martins, da Fimat Futures. A trajetória de queda começou em fevereiro, quando começaram as projeções de safra recorde nos EUA. Em 12 meses, a commodity acumula queda de 38,54%, a maior entre as commodities analisadas. "Há perspectivas de boa oferta no médio e longo prazo. Os preços devem oscilar de 45 centavos a 50 centavos", disse. As cotações do cacau, também negociado na bolsa nova-iorquina, foram pressionadas em outubro pela entrada da safra da Costa do Marfim - maior produtor mundial da amêndoa. No mês, a queda chegou a 2,59%, mas nos últimos 12 meses ainda há alta de 1,34%. Apesar da queda mensal, a persistente instabilidade política na Costa do Marfim deu suporte aos preços no começo e no fim do mês. Na bolsa de Chicago, o 6º mês seguido de baixas da soja e do milho voltou a ser influenciada pela gorda safra americana, que não enfrentou os problemas climáticos verificados nos últimos anos. Carro-chefe das exportações brasileiras, a soja registrou cotação média 6,12% menor que em setembro, e não tem qualquer perspectiva de recuperação significativa. Apesar da boa demanda asiática - principalmente chinesa e coreana - pelo grão produzido nos EUA, Renato Sayeg, da Tetras Corretora, observa que prevalece o fator safra recorde americana, numa tendência que poderá, para ele, derrubar as cotações abaixo de US$ 5 por bushel até o fim do ano. Anderson Galvão, da Céleres, acredita que o "grosso" da baixa já aconteceu, e diz que oscilações consideráveis deverão acontecer só a partir de fevereiro, já em razão do comportamento da safra a ser colhida na América do Sul. O milho, também com projeções de safra recorde nos EUA, vai na mesma direção. Para Leonardo Sologuren, da Céleres, esse fator, associado a exportações mais lentas que o aumento da produção e crescimento dos estoques globais, pressionam as cotações. "É muito difícil que haja recuperação de preços neste ano", disse. Em outubro, o preço médio do milho caiu 3,74%. No caso do trigo, a retração foi de 2,84% no mês passado em relação a setembro, em função das colheitas americana e canadense.