Título: BC e Petrobras abafam conflito sobre ata
Autor: Claudia Safatle
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2004, Finanças, p. C-3

O conflito entre o Banco Central e a Petrobras foi dado por encerrado na sexta-feira pelos respectivos presidentes Henrique Meirelles e José Eduardo Dutra, mas a troca de notas oficiais não respondeu a uma pergunta básica: qual é mesmo a política de preços da Petrobras? Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na quinta-feira, o BC - que tem como uma de suas funções, no regime de metas para a inflação, fazer projeções sobre a inflação futura - escreveu: "No cenário doméstico, continua indefinida a trajetória de realinhamento dos preços dos derivados de petróleo em relação às cotações internacionais, e aumenta a possibilidade de que o impacto desse realinhamento - na medida em que possa ser postergado, mas não evitado - acabe contaminando mais fortemente a inflação de 2005". Em seguida, o texto conclui: "Além disso, uma mera protelação reduziria a eficácia da política monetária, ao estender o período durante o qual os agentes privados operam na expectativa de um choque inflacionário iminente, de magnitude incerta, requerendo taxas de juros nominais mais elevadas para produzir uma mesma taxa de juros real esperada". A diretoria da Petrobras reagiu de forma imediata em nota oficial, alegando que os preços atuais são competitivos e deixando claro que "a política de preços é de exclusiva responsabilidade da empresa". Na sexta-feira, relendo a ata do Copom, fontes do BC comentaram que talvez tivesse sido melhor dizer exatamente a mesma coisa, mas em linguagem mais sutil. O fato é que, como responsável pelo cumprimento das metas oficiais de inflação com instrumento de política monetária, cabe ao BC fazer projeções, antecipar problemas e explicitar as razões de suas decisões. Quando o Ministério das Comunicações, no ano passado, se rebelou contra o indexador de tarifas telefônicas, a ata do Copom também trouxe à tona o problema. Ao mesmo tempo, é legítima a preocupação do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, com os efeitos das decisões de preços da Petrobras e seus impactos sobre a inflação, razão pela qual ele tem defendido reajustes graduais. E não se pode negar que há, também, um elemento político-eleitoral na postergação dos reajustes de preços da gasolina. Apesar da escalada dos preços internacionais do petróleo, a estatal reajustou em 4% o preço da gasolina nas refinarias em 14 de outubro e, na ocasião, Palocci declarou que um novo reajuste deverá ocorrer. "É trabalho desse Banco Central, como de qualquer BC no mundo, (fazer) um acompanhamento da evolução dos preços importantes da economia", disse Meirelles, ao ler a nota do BC, na sexta-feira. "No momento atual, é claro que o preço internacional do petróleo adquiriu grande relevância, sendo objeto de atenção de todos os bancos centrais." Meirelles acrescentou que o BC continuará fazendo exercícios de projeção sobre o comportamento dos preços, já que é seu "dever" analisar o impacto na inflação passada e futura, e que isso não significa interferência na política de preços da estatal.