Título: Severino diz que não se afasta, nem renuncia
Autor: Jaqueline Paiva
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2005, Política, p. A10

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, declarou ontem guerra à oposição. Ele garantiu que não se afasta, não renuncia e amanhã vai presidir a reunião da Mesa Diretora da Casa. Confirmou também que na quarta dirigirá a sessão do plenário que deverá julgar o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). A decisão poderá abrir nova crise no Congresso, pois o PSDB e o PFL mantiveram a disposição de apresentar denúncia contra Severino ao Conselho de Ética, na terça, por quebra de decoro parlamentar. Durante entrevista ontem de mais de uma hora, Severino negou com veemência que tivesse recebido propina do empresário Sebastião Buani para permitir a prorrogação de um contrato para funcionamento do restaurante Fiorela nas dependências da Câmara, quando era primeiro secretário em 2002. "A versão apresentada é visceralmente fraudulenta", afirmou, lendo roteiro de quatro páginas preparado por sua assessoria. Severino argumenta que o contrato foi prorrogado por 18 meses por decisão da assessoria técnica, que iria iniciar uma obra nos restaurantes e não poderia fazer novas licitações. A autorização para a prorrogação teria sido dada no dia 3 de janeiro de 2003 e não no dia 31, como disse Buani. Esta seria a data também da reunião em que Severino teria pedido a propina, segundo o empresário. O presidente da Câmara apontou outra contradição na versão de Buani. O documento com a assinatura de Severino, que garantia a prorrogação, teria sido protocolado no dia 9 de abril de 2002, mas teria sido assinado 5 dias antes. Para contestar o documento, Severino apresentou uma perícia feita em Pernambuco por Adasmastor Nunes de Oliveira. De acordo com parecer do perito, "há fortes indícios" de que o documento teria a assinatura recente de Severino e não a de 2002, dois anos antes dele sofrer um derrame que mudou sua grafia. O perito aponta também que o documento apresentado por Buani teria sido "fraudado eletronicamente". Apesar de negar em vários momentos a assinatura do documento, deu margem para dúvidas. Deixou a possibilidade de sua assessoria ter levado a ele para assinar o texto sem ter discutido o conteúdo. Em seguida, voltar a negar esta hipótese. Várias vezes, o presidente garantiu que "provará sua inocência". Para ele, "as acusações partem de gente que não admite que um nordestino esteja a frente de um poder". Classificou de "manifestações histéricas de uma minoria", os que o querem fora do poder. Antes de conceder a entrevista, Severino chamou a sua casa o coordenador político do governo, ministro Jaques Wagner. Relatou a ele que daria explicações e iria lutar por seu mandato e seu cargo. Wagner o encorajou. Durante a coletiva, Severino afirmou que se o governo defende a seriedade "vai ficar a meu lado". Desde a semana passada, o Palácio do Planalto tenta se equilibrar entre não defender Severino publicamente, para não atrair a crise de volta ao presidente Lula, e manter as pontes com o presidente da Câmara, para que ele não se sinta abandonado pelo governo. Quando Severino esteve em Nova York, semana passada, Wagner ligou para ele diversas vezes. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, acha que a situação de Severino melhorou após a coletiva. "Severino Cavalcanti não pode renunciar com base em alguém que diz que ele é culpado", defendeu. Segundo Chinaglia, nas atuais circunstâncias, Severino fez uma defesa enfática de sua inocência, mas a situação ainda é delicada. "Se aparecer um documento afirmando que a assinatura é realmente dele, a situação piora dramaticamente", ponderou. Para a oposição, o presidente da Câmara não apresentou provas contundentes da sua inocência porque há cinco testemunhas de acusação, entre elas três garçons, que teriam levado a propina ao gabinete do deputado. Com base neste entendimento, o líder da minoria, José Carlos Aleluia (BA), mantém a disposição de representar contra Severino no Conselho de Ética. "Não há julgamento prévio, mas ele não poderá presidir sessões enquanto estiver sob suspeição", diz. Mas Aleluia admite que a oposição poderá rever sua decisão de se ausentar das sessões presididas por Severino, como na que decidirá a cassação de Jefferson, se os deputados de outros partidos derem quórum. Se isso acontecer, a oposição participará da votação. Para o líder do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP), as testemunhas valem mais que uma prova escrita. "Não vai ser preciso provar propina com cheque ou documentos", disse. Na terça, os dois partidos vão pedir ao líder do PT, Henrique Fontana (RS), que assine a representação. "Quem não assinar, estará conivente com Severino."