Título: Cotação do couro despenca no país
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2005, Agronegócios, p. B10

O couro verde, que havia atingido um novo patamar de preços no mercado após as epidemias de aftosa e "vaca louca" na Europa há quatro anos, volta a amargar queda nas cotações no mercado doméstico. A pressão decorre, principalmente, da maior oferta no mercado nacional em função da ampliação dos abates de animais e do recuo do dólar diante do real. Segundo levantamento da Scot Consultoria, o quilo do couro verde em São Paulo e em Goiás, dois mercados de referência, teve preço médio de R$ 1,00 em agosto contra R$ 2,37 no mesmo mês de 2004. A variação é de 57,9% em termos nominais e de 59,3% com os valores corrigidos pelo IGP-DI. No Rio Grande do Sul, outro importante mercado para o couro, o quilo do produto negociado entre frigoríficos e curtumes ficou em R$ 1,40, em média, queda de 45% sobre os R$ 2,55 de agosto do ano passado. Corrigindo-se os valores pelo IGP-DI, o recuo é de 46,8%, segundo a Scot. Nos três mercados, as cotações seguem no mesmo nível que em agosto. Na avaliação de Fabiano Tito Rosa, analista da Scot, a desvalorização do couro verde se deve, principalmente, à oferta elevada da matéria-prima, já que o abate de boi cresceu em 2004 e continua se ampliando este ano. Estimativas da Scot indicam que o abate de gado bovino atingiu 40,3 milhões de cabeças em 2004, aumento de 13% sobre o ano anterior. Para este ano, a previsão é de novo crescimento, entre 5% e 6%, segundo Rosa. Tanto no ano passado quanto neste ano o que se vê é o maior abate principalmente de fêmeas, diz ele. A alta do real ante o dólar também interfere nos preços domésticos, já que 70% da produção nacional de couro é exportada, observa o analista. "O real valorizado interfere na margem dos curtumes", acrescenta Rosa. Edivar Queiroz, presidente do frigorífico Minerva, explica que os exportadores de couro estão recebendo menos reais nas vendas externas por conta da queda do dólar, o que acaba pressionando a cotação do couro verde pago aos frigoríficos. O Minerva, que não tem curtume para transformar o couro verde, terceiriza a produção de couro do tipo "wet blue" (semi-processado) e exporta. Para Queiroz, o grande fator de pressão sobre a cotação do couro é o câmbio. Ele avalia que o impacto da maior oferta não é tão significativo. Arnaldo Frizzo, presidente da Braspelco, afirma que o dólar baixo está prejudicando a transformação de manufaturados, o que acaba elevando as exportações de couro como "commodity", isto é, como matéria-prima para outras indústrias, caso do "wet blue" e não como produto acabado. Essa situação também pressiona a cotação do couro verde. É o que ocorre hoje com a indústria de calçados, que vê suas vendas reduzidas em função da maior concorrência no mercado internacional, principalmente com a China, acrescenta Tito Rosa. Até julho deste ano, o setor calçadista exportou 117,7 milhões de pares ao exterior, segundo a Abicalçados, abaixo dos 128,7 milhões de igual período de 2004. Já as vendas externas físicas de couro somaram 188.218 toneladas entre janeiro e julho passado, um pouco atrás das 185.181 toneladas de igual período de 2004, de acordo com o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB). Os embarques de "wet blue", que representam 55% das vendas externas, caíram de 9.656 peças entre janeiro e julho de 2004 para 8.795 couros em igual intervalo deste ano. Para Nilson Vitale, do curtume Touro, a demanda pelo couro brasileiro se mantém, pois o produto "conquistou" o mercado internacional devido aos preços competitivos. A queda do dólar, porém, prejudica os exportadores, afirma.