Título: Para Meirelles, economia aguenta crise prolongada
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2005, Finanças, p. C3

Reunião do BIS Fonte diz que nota de risco do Brasil já poderia ter melhorado

A economia brasileira pode suportar um prolongamento da crise política no país, se for mantida a atual política econômica baseada na austeridade fiscal, regime de metas de inflação e câmbio flutuante. A avaliação é do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao desembarcar ontem em Basiléia, Suíça, onde participa, com outros banqueiros centrais, de avaliação da economia mundial no Banco Internacional de Compensações (BIS, na sigla em inglês). Existe evidente curiosidade entre bancos centrais sobre o impacto da crise política interna que fragiliza o governo Lula. Até agora, os resultados para a economia brasileira foram pequenos. Mas, uma fonte também presente em Basiléia notou que, não fosse a crise política, as agências internacionais de classificação de risco de crédito já teriam melhorado a nota do país, o que baixaria o risco-país e diminuiria os custos de captação para as empresas e governo nas transações internacionais. Atualmente, Fitch e Standard & Poor's classificam o Brasil como investimento de risco ("BB-"). Meirelles desembarcou na Suíça bastante refratário a declarações públicas, alegando que nesta terça-feira começa a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que vai decidir na quarta o nível do juro básico (taxa Selic). Mas ele reiterou que vai transmitir hoje aos outros banqueiros centrais a mensagem de que o pais está "sólido e com vulnerabilidade muito menor". Meirelles salientou a especificidade do Brasil, que além das incertezas provocadas pelo preço do petróleo, enfrenta uma crise política interna e, ainda assim, "os indicadores da economia são extremamente positivos". O presidente do BC reiterou que o governo "está comprometido com a adoção de implementação de políticas sólidas para manter o crescimento equilibrado", mas não quis fazer qualquer comentário sobre os indicadores mais recentes. Ontem, diretores de BCs de países emergentes se reuniram com colegas de nações industrializadas para discutir o impacto do preço do petróleo. Em algumas economias, há preocupação maior por causa da inflação, dependendo das perspectivas de crescimento econômico. A China, com 10% de expansão do PIB, pode ser mais afetada. O Brasil, que terá o menor crescimento entre os emergentes, poderia por essa avaliação ser menos afetado. Por sua vez, países emergentes produtores de petróleo, como México e Rússia, aumentam a receita a partir da cobrança de taxas sobre as exportações de óleo, mas de outro lado não estimulam investimentos no setor, empurrando problemas para o futuro. O diretor de política monetária do BC, Rodrigo Azevedo, representou o Brasil nesta reunião. Uma fonte no BIS disse ter entendido que o impacto do preço do petróleo no Brasil pode ser compensado "de outras maneiras", inclusive "porque o país está exportando petróleo". Um técnico que acompanha os debates no BIS não escondia a "curiosidade" da situação brasileira: enquanto na Europa companhias de petróleo como BP e Total estão baixando o preço do combustível, no Brasil a Petrobras está é aumentando o custo para refinarias, com o impacto sobre a inflação. Hoje, os banqueiros vão avaliar o impacto do comportamento do preço do petróleo levando em conta também os estragos causados pelo Furacão Katrina, que ameaçam baixar as perspectivas econômicas dos Estados Unidos, até agora o principal motor da economia global. O que ontem parecia realmente chamar a atenção dos banqueiros ontem era um clássico Bugatti 1929, estacionando em frente ao hotel, avaliado em ? 300 mil. Enquanto o velho proprietário tomava um drinque com uma jovem companhia, o presidente do Banco Central Europeu, Jean Claude Trichet, era um dos que não escondiam a admiração pelo automóvel, bem longe das preocupações com custo do dinheiro ou outros assuntos monetários.