Título: Na ONU, presidente defende governo
Autor: Maria Lúcia Delgado e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2005, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve que defender seu governo das denúncias de corrupção numa entrevista nas Nações Unidas sobre propostas do grupo de Ação Contra a Fome e Pobreza, formado pelo Brasil há dois anos. Lula disse que "a corrupção é um mal no Brasil, no planeta e em qualquer lugar que tenha um ser vivo. Mas nem a corrupção nem a instabilidade política podem ser razões para que não se tenha uma política de combate à fome eficaz". Lula referiu-se indiretamente à prisão do ex-prefeito Paulo Maluf como um sinal de que a corrupção está sendo mais punida no país. "Nunca se apurou tantas coisas no Brasil como se tem apurado agora. Você deve ser testemunha de que muita gente já foi presa. Pessoas que estavam em liberdade e que ameaçavam ser presas há 20 anos, 30 anos, e que agora estão presas. Entre você prender um ou 10 corruptos e devolver o dinheiro para a sua finalidade há uma diferença muito grande", disse o presidente, respondendo à pergunta de como manter o interesse do público no combate à fome quando só se fala em CPIs. "Nada disso impede que você tenha uma política eficaz. Não existe desculpa para você combater a fome", afirmou. Depois listou o total de transferência de renda em programas sociais do governo (US$ 3 bilhões), aumento do crédito e agricultura familiar. Repetiu o argumento de que não é possível resolver em quatro anos as desigualdades históricas. O presidente Ricardo Lagos, do Chile, ao responder sua pergunta correu em socorro de Lula, dizendo que responderia também à pergunta anterior. "Acho que não adianta dizer que se existe corrupção e não há transparência não se faça nada. Queremos que haja responsabilidade (...) é melhor avançar pouco do que não fazer nada". Lula disse que o Brasil não receberá os recursos arrecadados com a proposta de taxação sobre passagens aéreas- o dinheiro deve ser dirigido a países muito pobres, como os africanos. Já no início da conferência Lula referiu-se à corrupção, dizendo que os países pobres só poderão convencer os ricos a aumentar suas doações se o governo for "sério" e que os recursos estão sendo "aplicados para o bem comum da coletividade e não para poucos". A pergunta sobre corrupção não foi a única difícil enfrentada por Lula. A primeira pergunta da entrevista, do decano da associação de correspondentes da ONU, referiu-se à dificuldade de implementar iniciativas concretas para combater a pobreza num momento de grande desentendimento entre os países na assembléia geral. Lula disse que não esperava que tudo mudasse "ao primeiro grito", mas que via mais interesse pelo assunto nos últimos fóruns internacionais. De fato, ontem o presidente Bush relacionou o combate à pobreza com a mudança do ambiente que acaba gerando terrorismo.