Título: Presidente do PP muda versão sobre saque no Rural
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2005, Política, p. A7

A cada dia aparecem mais contradições entre as diferentes versões sobre o dinheiro repassado pelo empresário Marcos Valério Fernandes ao PP, por ordem do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Durante depoimento à CPI Mista do Mensalão na tarde de ontem, o presidente nacional do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), apresentou divergências em relação aos esclarecimentos prestados pelo próprio Valério e pelo autor dos saques no Banco Rural, João Cláudio Genu, assessor do líder do partido na Câmara, José Janene (PR). A grande divergência de Valério, Genu e Corrêa se refere aos valores repassados pelo empresário ao PP e à freqüência dos saques das contas do empresário. O presidente do PP disse ontem ter autorizado o saque de R$ 700 mil das contas do empresário no Banco Rural. Segundo o deputado, Valério teria repassado, por ordem do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, R$ 300 mil no dia 17 de setembro de 2003 e mais R$ 300 mil no dia 24 do mesmo mês. Em janeiro de 2004 teriam chegado mais R$ 100 mil. Esses R$ 700 mil teriam sido usados integralmente para pagar os honorários do advogado Paulo Goyaz, defensor do deputado federal cassado Ronivon Santiago (AC) em 36 processos na Justiça. O advogado já declarou ter recebido cerca de R$ 1 milhão do partido para defender o parlamentar. A versão de Valério é bem diferente. Lista apresentada pelo sócio das agências de publicidade SMP&B e DNA às CPIs do Mensalão e dos Correios enumera diversas retiradas de dinheiro feitas por representantes do partido das contas no Banco Rural. O montante total chegaria a R$ 4,1 milhões. Em depoimento à Polícia Federal, Genu também deu outra versão à mesma história. O assessor da liderança do PP disse ter ido inúmeras vezes ao Banco Rural e a hotéis para pegar dinheiro com Simone Vasconcelos, funcionária das empresas de Valério. Dá a entender que pegou dinheiro por ordem da cúpula do PP mais de três vezes, como disse ontem Pedro Corrêa, e não se lembra dos valores. "Se Genu sacou além dos R$ 700 mil reconhecidos por mim, ninguém do partido tinha conhecimento disso", afirmou o presidente do PP. Corrêa confirmou a participação dele, de Janene, do deputado Pedro Henry (MT) e de Delúbio Soares nas negociações financeiras entre PP e PT. Isentou de qualquer participação o ex-presidente do PT José Genoino nas negociações financeiras. "Nunca tratamos com o Genoino. Quando o assunto era dinheiro, ele sempre nos orientava a falar com o Delúbio", disse o dirigente do PP. Corrêa revelou que os R$ 700 mil foram contabilizados pelo partido e há um débito tributário no valor de R$ 396 mil à Receita Federal. "Vamos pagar nos próximos dias", afirmou. Corrêa refutou que tenha havido qualquer repasse do dinheiro de Marcos Valério a deputados do partido. "Nego veementemente que o PP tenha repassado qualquer dinheiro a deputado. Tudo foi usado para pagar o advogado", afirmou. Ele disse desconhecer a existência de pagamento de mesada a parlamentares para votarem com o governo: "Tenho mais de 20 anos de Congresso e nunca ouvi falar em mensalão".