Título: Gushiken assume influência em fundos "em nome do erário"
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2005, Política, p. A7

Crise Ex-ministro desafia pefelista a apresentar provas de que participava de 'quadrilha do governo'

O chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, ex-ministro Luiz Gushiken, admitiu ontem, durante depoimento à CPI Mista dos Correios, ter influenciado os fundos de pensão estatais e indicado pelo menos um dirigente quando era ministro chefe da Secretaria de Comunicação de Governo. Numa sessão tensa, Gushiken assumiu a indicação de Wagner Pinheiro para a Presidência da Petros, fundo dos funcionários da Petrobras. "Sugeri à ministra Dilma (Rousseff, ex-titular das Minas e Energia e atual da Casa Civil) que apreciasse seu nome, já que ele tinha experiência", afirmou. Gushiken disse também que mantinha relações próximas com os presidentes da Previ (Banco do Brasil), Sérgio Rosa, e da Funcef (Caixa Econômica Federal), Guilherme Lacerda. "Tenho confiança total nos dirigentes dos fundos". Mas negou interferência direta nos investimentos das entidades. "De fato, tive relação com três presidentes de fundos", disse. "Mas não tenho noção de quem indicou os outros diretores". Na Previ, porém, Gushiken mantinha uma interlocução privilegiada. "Muitas vezes pedi ao Sérgio Rosa para me informar sobre decisões, em alguns encontros no Rio". E disse não considerar "indevida" sua atuação. "Era minha obrigação como membro do governo", afirmou. Ele admitiu ter sido procurado por Rosa para entender se havia decisão do governo sobre a batalha judicial mantida pelos fundos e o dono do grupo Opportunity, Daniel Dantas, em torno da Brasil Telecom. "Ele me procurou para saber se havia decisão do governo sobre a Brasil Telecom. Disse que, pela coordenação do governo, não havia". O ex-ministro admitiu ter sugerido a Sergio Rosa, seu "amigo pessoal", que "defendesse" o patrimônio da Previ. "Ignorar (a briga) seria uma insanidade. Tenho interesse, sim. Mas não decidia nada", ressalvou. Segundo ele, os fundos "entendiam" que se aceitassem proposta de Dantas "haveria prejuízo aos funcionários". Gushiken minimizou sua disputa de poder sobre os fundos com o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu: "Nunca conversamos sobre isso. Exageraram o grau de divergência. Era natural, como num clube ou numa família". Ele disse que só entrou no caso porque foi espionado pela empresa Kroll a mando de Dantas. "Os fundos não podem ser objeto de manipulação privada", disse. "Defender os interesses dos funcionários do BB é defender o Erário, que participa da Previ". Aos parlamentares, Gushiken admitiu, porém, ao menos um episódio em que teria tentado influenciar os fundos. "Numa discussão com o presidente Lula sobre as PPPs (parcerias público-privadas), disse que os fundos poderiam ser uma opção e pedi que fizessem estudos técnicos sobre esses investimentos", afirmou. E também assumiu a proximidade com o órgão governamental encarregado da normatização e fiscalização dos fundos, o diretor da Secretaria de Previdência Complementar, Adacir Reis, seu ex-chefe de gabinete. "Não o indiquei (formalmente foi o ex-ministro Ricardo Berzoini), mas teria orgulho disso porque o conheço", disse. O ex-ministro foi chamado à CPI porque é investigado por um suposto direcionamento dos investimentos dessas entidades, sob sua influência, para bancos que teriam ajudado o PT a formar um "caixa dois" para pagar dívidas de campanha e comprar o voto de deputados. Ele repudiou de forma indignada, que tenha montado esquema com os fundos. "É leviandade que não tem sentido nenhum", afirmou. Acusado pela oposição ao governo na CPI de manipular as licitações de publicidade do governo para montar um esquema com as agências de Marcos Valério de Souza, apontado como operador do mensalão no Congresso, para irrigar as contas do PT, Gushiken bateu boca com os deputados. "Me espanta sua leviandade. Apresente provas! Não se esconda em sua imunidade", desafiou Onyx Lorenzoni (PFL), que o chamou de membro da "quadrilha do governo" e de ter "poderes ditatoriais" na Secom. Ele disse ter denunciado o esquema antes mesmo da oposição. "O modelo de Delúbio era uma réplica do sistema adotado em Minas pelo PSDB, em 1998", disse. Gushiken irritou-se também com o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que sugeriu haver um "jogo" entre Marcos Valério e Duda Mendonça, o publicitário preferido do PT, para ganhar as melhores contas do governo. Serraglio afirmou que Duda e Valério "fazem parte do mesmo contexto". Segundo ele, os contratos serviram para alimentar o "caixa dois" dos partidos. "Duda está por trás de Valério, só não podia mostra a cara", disse. Gushiken reagiu: "Repudio essas insinuações". Ele defendeu a atuação da Secom nas licitações. "Nossa tarefa era a supervisão". E negou favorecimento em estatais, dizendo que a SMP&B de Valério ganhou a conta dos Correios contra outras 50 agências. "Não conheço Valério e não entramos nessas considerações de quem participava". Segundo ele, de onze licitações, Valério ganhou três. "Neste governo, ele recebeu R$ 314 milhões, mas 70% foram para veículos de comunicação", disse. (Colaborou Jaqueline Paiva, de Brasília)