Título: Lessa critica discussão do déficit nominal zero no partido
Autor: Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2005, Política, p. A12

O ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Carlos Lessa, disse ontem que o PMDB terá que fazer uma escolha entre o programa que prepara para o partido e a proposta de déficit nominal zero, encabeçada pelo deputado Delfim Netto (PMDB-SP), recém ingresso ao partido. "O PMDB terá que fazer a sua escolha. São programas divergentes", alertou. O economista ficou surpreso ao saber do apoio do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia ao programa de Delfim, lembrando que quando ele (Lessa) foi convidado pelo presidente nacional da legenda, Michel Temer, para estruturar uma proposta alternativa para a condução da política econômica brasileira, Quércia estava presente e apoiou a iniciativa. Para Lessa, o ex-ministro da Fazenda resolveu migrar para o PMDB com o objetivo claro de "bloquear o programa nacional desenvolvimentista que está se mexendo". "Por quê ele (Delfim) só resolveu mudar de partido agora? Porque percebeu que um caminho novo está surgindo. Ele quis bloquear o avanço do programa nacional desenvolvimentista", denunciou Lessa. Defensor ferrenho de uma política econômica desenvolvimentista, Lessa criticou ontem a proposta defendida pelo ex-ministro da Fazenda e deputado Delfim Netto (PMDB) de zerar o déficit nominal das contas públicas. Em sua avaliação, a aplicação desta política obrigaria o governo federal a "comprimir ainda mais o gasto público e o superávit fiscal". "Delfim dizia que era melhor esperar o bolo crescer para depois dividir. Mas ele (com essa proposta) não quer dividir o bolo e sim mantê-lo grande. O bolo que ele prometeu repartir nos anos 70 continua igual e os comensais daquela época já morreram de fome. Caso essa proposta seja adotada, serão mais cinco anos de juros elevados no país", previu Lessa ao Valor. Na cerimônia de sua filiação ao PMDB, na terça-feira passada, Delfim anunciou que, assim como Lessa, também irá elaborar um programa de governo para a legenda, que será apresentado pelo candidato que concorrer à presidência da República, em 2006. O economista contou que só formulará uma proposta definitiva para o partido depois de tabular as respostas dos questionários que tem feito com militantes do PMDB em todo o país. Hoje, Lessa apresenta as conclusões da reunião que teve com governadores e militantes, em Curitiba, no dia 12. E adiantou que os principais pontos defendidos pelos militantes curitibanos foram a redução da taxa de juros, "que esterilizam o país", a ampliação de políticas sociais e o controle da entrada de capital de curto prazo no país. No próximo dia 23, Lessa se encontra com militantes de São Paulo e no dia 26 é a vez dos cariocas pemedebistas darem sua opinião. "Estou fazendo uma consulta em 27 plenárias do PMDB, Brasil afora, ouvindo todos os quadros do partido. No fim, vou elaborar uma proposta com base no que eles disseram. Convido o sr. Delfim a participar da reunião em São Paulo", alfinetou. Questionado se irá apoiar a pré-candidatura do presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, à presidência da República, o ex-presidente do BNDES respondeu que dará apoio ao candidato escolhido nas eleições prévias do partido, marcadas para março.