Título: Plano da Varig não resolve problema com credores
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2005, Empresas &, p. B3

O plano de recuperação da Varig não resolve ainda o problema dos maiores credores da companhia, que continuam com previsão incerta de recebimento dos seus créditos. A maioria prefere não se manifestar publicamente no momento, apesar de alguns avaliarem que a empresa tem um forte aliado: a Justiça. Ontem, o vice-presidente de Aviação para a América Latina da Shell Aviation, Paulo Borgerth, disse que ainda não tinha sentado para avaliar integralmente a proposta da Varig. Mas sua avaliação preliminar era de que sua empresa receberá muito pouco nas primeiras levas de credores da Varig a serem pagos no início considerando o limite de R$ 1 milhão por mês. Na listagem de credores a Shell aparece com crédito de R$ 9,238 milhões. Um consultor do setor disse ao Valor, com o compromisso de não ser identificado, que as mudanças operacionais propostas na reestruturação não trazem mudança no modelo, que já não vem se mostrando capaz de enfrentar a concorrência. Ontem o presidente do conselho de administração da Varig, David Zylbersztajn, reafirmou ontem que a empresa não tem como sobreviver sem um novo sócio. E mesmo com a venda da VarigLog para a MatlinPatterson, por R$ 38 milhões, a companhia só terá equilíbrio no seu fluxo de caixa até dezembro. "Nesse tempo começaremos as medidas de redução de custos. A outra medida é a atração do investidor. É isso que tem que acontecer", disse. Outra condicionante para o sucesso do plano é o sucesso das negociações com o Ministério da Fazenda, que precisa reescalonar as dívidas fiscais e tributárias da companhia. "Se a Fazenda não quiser esse plano não fica de pé", admitiu Zylbersztajn. De imediato, a Varig está propondo o pagamento de apenas R$ 100 milhões, mesmo assim por rateio e ao longo de 30 meses, em parcelas de no máximo R$ 1 milhão por mês nos seis primeiros meses após a aprovação do plano. O valor aumenta para R$ 4 milhões mensais do sétimo ao vigésimo nono meses, sendo de R$ 2 milhões no último. Nessa proposta, entrariam os credores trabalhistas e os sem garantias. O objetivo é encerrar logo os passivos com aqueles que têm a receber menor volume de recursos, permanecendo a negociação final com os maiores credores. A Varig deve R$ 1,8 bilhões ao Instituto Aerus de Seguridade Social , e R$ 888,66 milhões a empresas de leasing que têm R$ 256,78 milhões em garantia. Outros R$ 1,1 bilhão são devidos a empresas de leasing que não têm garantia e que estão incluídos na classe 3 da recuperação judicial. Nessa categoria, o topo da lista é ocupado pela japonesa Nissho Iwai, que tem a receber R$ 244,9 milhões. Ela deve ainda R$ 579 milhões a outros fornecedores encabeçados pela Infraero (R$ 316,4 milhões), BR Distribuidora (R$ 59 milhões) e IBM Brasil (R$ 22,23 milhões).