Título: Governo vai gastar US$ 15 milhões com primeiro astronauta brasileiro
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 18/09/2005, Brasil, p. A2

A primeira viagem de um astronauta brasileiro, a bordo de uma espaçonave russa Soyuz, custará US$ 15 milhões ao governo do Brasil e acontecerá, provavelmente, em abril do ano que vem. Ele ficará sete dias na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). No início de outubro, os governos brasileiro e russo assinarão o pré-contrato para envio do coronel Marcos Pontes ao espaço, e o governo desembolsará a primeira parcela, de US$ 1,5 milhão. O valor a ser pago é 25% menor que o preço habitualmente cobrado pelos russos para enviar passageiros em vôos espaciais, mas, ainda assim, o vôo, que estava previsto para agosto, foi adiado para 2006, à espera de previsão orçamentária. O acordo será assinado por Luiz Inácio Lula da Silva e Vladimir Putin, durante a visita do presidente brasileiro à Rússia, em 18 de outubro. A viagem do astronauta brasileiro fará parte das discussões entre Putin e Lula sobre o programa de cooperação na área espacial entre os dois países, que inclui o lançamento do foguete brasileiro VLS 2 e projetos conjuntos em matéria de satélites. O custo com a viagem representa quase o triplo da verba destinada no Orçamento de 2005 às atividades relacionadas à ISS. O Ministério de Ciência e Tecnologia, que coordena as negociações pelo lado brasileiro, defende a viagem com argumentos políticos e técnicos. Para o ministério, a ida do primeiro brasileiro ao espaço seria um marco para "qualquer governo" e deverá gerar noticiário positivo para o Brasil. Alvo de críticas pela não-execução de boa parte do orçamento destinado à pasta, o ministério argumenta que a viagem de Pontes será um dos pontos altos do programa nacional de atividades espaciais e permitirá experimentos inéditos no país na área de microgravidade - ambientes com gravidade próxima de zero. O Brasil já realiza experiências com microgravidade, mas por tempo extremamente limitado, de no máximo oito minutos, em vôos de foguetes de sondagem, modelo VSB 30, pela Agência Espacial Brasileira (AEB). Durante a permanência de sete dias na Estação Espacial Internacional, o coronel Pontes acompanhará cinco experimentos de instituições brasileiras, um deles encomendado pela Petrobras. O programa da AEB inclui desde teste de aparelhos de precisão até estudos sobre comportamento de enzimas, proteínas, nanopartículas e substâncias diversas. O brasileiro vinha sendo treinado pela agência espacial americana, a Nasa, mas os atrasos no programa espacial americano frustraram as expectativas da AEB de enviá-lo em uma das tripulações do ônibus espacial. A associação com os russos abriu a possibilidade de retomar os planos com os experimentos em microgravidade e com o treinamento de Pontes, que terá período de adaptação em Moscou. O brasileiro terá até aulas de russo.