Título: Vendas crescem no comércio em julho, mas bens duráveis têm queda
Autor: Sergio Lamucci, Marli Lima e Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2005, Brasil, p. A3

A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) de julho, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que as vendas do comércio cresceram no período, apesar da produção da indústria ter registrado queda. No mês, com ajuste sazonal. as vendas aumentaram 0,31% em volume e 0,47% em receita nominal em relação a junho. Na comparação com julho do ano passado, a alta foi de 4,5% em volume e 9,33% em receita. Nas mesmas comparações, o crescimento acumula 4,62% e 11,47% no ano. Esses resultados foram menores que os dos meses anteriores, mas segundo Fernando Montero, economista da consultoria Convenção, o importante é que o varejo não confirmou o quadro de queda da indústria. "O lado ruim que o comércio bateu com a indústria foi na redução forte de 12,4% nas vendas de materiais de construção, revelando mais um indicador que afeta o investimento", alertou. Para Reinaldo Pereira, do IBGE, responsável pela pesquisa, a receita do crescimento continuado das vendas do varejo por 20 meses consecutivos se baseia em inflação em queda, dólar desvalorizado e expansão do crédito ao consumidor. Ele revelou, contudo, certo temor com o resultado das vendas na comparação com junho. No período, os negócios com móveis e eletrodomésticos caíram 1,88%, primeira taxa negativa desde janeiro. Segundo Pereira, esse segmento vinha liderando a expansão das vendas a crédito. A seu ver, esse resultado pode sinalizar um esgotamento do crédito consignado. Ainda na mesma base de comparação, as vendas dos supermercados, de alimentos e bebidas, encolheram 0,80%. Esses ramos do comércio são mais dependentes de renda do que de crédito, observou o economista do IBGE. Também os negócios do comércio de combustíveis caíram 4,74% na comparação com ajuste sazonal. A única exceção foram as vendas de tecidos, vestuário e calçados, que subiram 7,23% em relação a junho, devido às liquidações de inverno. Em relação a julho de 2004, o quadro foi mais otimista. A expectativa para os próximos meses, para o IBGE, é de manutenção de taxas positivas, levando em conta principalmente o início da trajetória de queda dos juros. Flávio Rocha, presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), está pessimista com o comércio nos próximos meses. Ele considerou os resultados de julho adversos, mas poderiam ter sido piores não fosse a performance do vestuário e dos calçados. "Teríamos tido uma queda generalizada do varejo na margem, depois de um crescimento consecutivo de 20 meses." Segundo ele, a perspectiva para os próximos meses, até o fim do ano, é bastante preocupante, principalmente devido aos juros. Rocha taxou de "muito tímida" a queda de 25 pontos da Selic, depois de quatro meses de deflação. Por outro lado, observa que o crediário começa a dar sinais de cansaço, como indica a queda das vendas de eletrodomésticos em julho ante junho. Sua previsão para o fim do ano não é nada animadora. "Estou prevendo um Natal difícil." O economista João Gomes, da Fecomércio/RJ tem uma visão completamente diferente da de Rocha. Para ele, a recente queda do juro será mais um ingrediente favorável a um bom Natal. "Oferta de crédito e custo do dinheiro mais baixo formam o melhor dos mundos para o consumidor", festejou. Aliado a isso, lembra que a queda da inflação e o aumento do emprego vão propiciar um crescimento de 5% na massa salarial em 2005, repondo as perdas de renda dos últimos três anos.