Título: Crédito volta a ajudar varejo em agosto e setembro
Autor: Sergio Lamucci, Marli Lima e Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2005, Brasil, p. A3

Conjuntura Redes esperam queda de juros e buscam alternativas de financiamento, como consórcios

As vendas do varejo em agosto e na primeira quinzena de setembro caminharam num ritmo razoável, amparadas em grande parte na continuidade da oferta de crédito a prazos dilatados. Com a aposta na queda dos juros básicos e na manutenção de condições favoráveis de financiamento ao longo dos próximos meses, os varejistas acreditam num fim do ano positivo. Para aumentar vendas, algumas redes vão lançar planos de consórcio para estimular a compra de móveis eletrodomésticos. No Shopping Interlagos, com a ajuda do Dia dos Pais, as vendas em agosto cresceram 6% em relação ao mesmo período do ano passado, descontada a inflação. A superintendente do shopping, Carla Bordon Gomes, diz que é possível repetir esse desempenho em setembro, devido à combinação de incentivos para compras a prazo e também de eventos ligados à comemoração do aniversário do Interlagos, que tendem a impulsionar vendas. Na primeira quinzena de setembro houve crescimento de 4%. "As vendas estão dentro do esperado. Acho que é possível fechar o ano com aumento de 10%", afirma Carla, acrescentando que a queda dos juros dá alento ao varejo. De janeiro a agosto, o faturamento cresceu 7,5%, ante igual período de 2004. Nas duas primeiras semanas de setembro, a FNAC registra um crescimento de 25% ante igual intervalo do ano passado. O segmento que mais ganha espaço é o de eletrônicos, com expansão de quase 30% neste mês. O de CDs e DVDs registra uma ligeira queda e o de livros está no mesmo nível. O diretor-geral da FNAC Brasil, Pierre Courty, diz que o resultado expressivo se deve em parte ao fato de a rede estar conquistando mercado no Brasil. Ele espera fechar o ano com aumento de 20% a 25%. No começo do ano, Couty projetava crescimento de 25% a 28%, mas ele lembra que o contexto econômico e político era outro. As condições de financiamento são uma das armas para vender mais, segundo ele. A FNAC financia a compra de alguns produtos em até 12 vezes sem juros. Nas operações com encargos financeiros, o prazo máximo é de 24 meses. Courty diz que a FNAC fará promoções no fim do ano, mantendo a política de dar descontos no lançamento de muitos produtos. "Se você não faz promoções, não vende." Courty acredita que a expectativa de redução da Selic nos próximos meses pode levar à queda nos juros cobrados nos financiamentos. Mas o começo de setembro não foi positivo para todos os varejistas. Feriados e chuvas atrapalharam as vendas da MM Mercadomóveis, rede paranaense com 56 lojas, sendo 17 em Curitiba, onde o comércio ficou fechado nos dias 7 e 8. Mesmo assim, o superintendente da empresa, Márcio Pauliki, espera ganhar terreno nas próximas semanas, acreditando ser possível repetir o desempenho de agosto. No mês passado, as vendas cresceram 15% ante julho, quando houve queda de 10% em relação a junho. O grupo abre hoje sua maior loja em Ponta Grossa, cidade onde fica a sede. No ano, a MM abriu 12 unidades no Estado e, com mais pontos, planeja vender 50% mais e faturar R$ 150 milhões. Consideradas apenas as lojas que possuía em 2004, a expansão deve ficar em 7%. Para atingir os objetivos, a rede decidiu adiar o pagamento da primeira parcela para dezembro. Também vai lançar um plano de consórcio para permitir o parcelamento de móveis e eletrodomésticos em até 50 meses. "As pessoas estão buscando cada vez mais o crédito", afirma Pauliki. Segundo ele, a parcela das vendas à vista caiu de 30% para 20%. Além disso, o número de parcelas aumentou. Há um ano, a maioria das compras era feita em 9 vezes sem entrada. Atualmente, 40% dos clientes optam por 12 vezes sem entrada. A rede tem financiamento próprio em até 15 vezes, mas prazos maiores podem ser feitos com uma financeira. O dono da rede Berlanda- 49 lojas em Santa Catarina-, Nilso Berlanda, voltou mais otimista de São Paulo, onde esteve na quarta-feira discutindo as perspectivas do comércio para o fim do ano. "O corte nos juros deve criar uma onda de otimismo. Estávamos passando por um momento difícil." O momento difícil foi o início do mês de setembro. Com vendas praticamente iguais às de setembro de 2004, e apenas 7% maiores do que as de agosto, a empresa poderia não chegar à meta de faturar R$ 120 milhões neste ano. "Mas agora esperamos fechar o mês com crescimento de 10%, e de cerca de 15% nos próximos três meses e atingiremos nosso objetivo de vendas para o ano". Berlanda diz que a aposta nos próximos meses será em DVD e televisão. Além da notícia dos juros, pesa a favor o fato de que em São Paulo ele se encontrou com fabricantes desses produtos e viu preços em queda. Ele afirma que está fazendo estoque principalmente desses produtos para se preparar para o fim de ano. Os pedidos, que geralmente aconteciam uma vez por mês, foram intensificados e ocorrem agora a cada dez dias. Para incentivar os consumidores, a rede negocia com uma empresa de consórcios uma parceria para compra de eletrodomésticos. Por financiar o próprio crediário, não tendo condições de atrasar por meses a primeira parcela de uma compra, a rede vai procurar atacar com essa outra alternativa. Na Lojas Cem, as vendas estão mais fracas no segundo semestre. De janeiro a junho, o faturamento nominal subiu 16% em relação ao mesmo período do ano passado. Em julho, o crescimento ficou em 8%, em agosto em 5%, e nos primeiros 12 dias de setembro, em 2%. Para o supervisor-geral das Lojas Cem, Valdemir Colleone, as incertezas provocadas pela crise política explicam a piora. "Eu não acredito em coincidências", diz ele, lembrando que a turbulência política cresceu em julho. Se continuar a tendência atual, o crescimento do faturamento em 2005 ficará em 8%. Dependendo dos desdobramentos da crise e do impacto da queda dos juros, é possível crescer 12% a 14%, diz Colleone.