Título: Preconceito cai e reduz diferença salarial entre negros e brancos
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2005, Brasil, p. A4

O preconceito contra os jovens negros está diminuindo no mercado de trabalho brasileiro. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério do Planejamento, demonstra que a diferença salarial entre brancos e negros é menor entre os jovens e atribui a queda a uma questão cultural: a discriminação diminuiu. O estudo (baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), indica que trabalhadores brancos com 35 anos de idade ganham 60% a mais que os negros. Aos 50 anos, a distância sobe para 90%. Já os trabalhadores brancos com mais de 60 anos ganham mais que o dobro dos negros. O levantamento também verifica que a distância salarial entre brancos e negros jovens no momento de seu ingresso no mercado de trabalho está ficando menor ao longo dos anos. Os brancos que nasceram em 1969 ganhavam 60% a mais que os negros ao atingir 35 anos. Quando a geração que nasceu em 1963 tinha 35 anos, essa diferença era de 80%. E ela foi de 90% quando os brancos e negros da geração de 1950 tinham 35 anos. Essa mudança de situação só é perceptível na análise dos dados por gerações. Na média, pouca coisa mudou no Brasil nos últimos 15 anos. Em 1987, os trabalhadores brancos recebiam 78% a mais que os negros. Em 2002, essa diferença registrou uma leve alta, atingindo 81%. O período analisado pelo Ipea no estudo vai de 1987 a 2002. Os pesquisadores Maurício Cortez Reis e Anna Risi Crespo, autores do estudo, não detectaram qualquer mudança, mesmo entre os jovens, no nível de escolaridade ou na distribuição da ocupação que possa explicar a queda da diferença salarial entre brancos e negros. Os brasileiros jovens estão estudando mais, independente da raça. Aos 21 anos, o nível de escolaridade médio dos trabalhadores brancos nascidos em 1965 era de 7,5 anos. Entre os negros, estava em 5,5 anos. Uma diferença de dois anos. A geração de 1980 ficou mais tempo na escola. Com 21 anos, os brancos estudaram nove anos, os negros, sete, mas a distância permaneceu em dois anos. Apesar do aumento da escolaridade, o trabalho ficou mais precário para todos. Em 1987, 65% dos trabalhadores brancos e 55% dos negros entre 24 e 26 anos tinham carteira assinada. Em 2002, 55% dos trabalhadores brancos e 45% dos negros nessa mesma faixa etária estava no mercado formal. Educação e ocupação são os fatores que mais influenciam nos salários pagos a um grupo. Como esses indicadores se mantiveram estáveis, os autores do estudo atribuem às mudanças a uma menor discriminação contra os negros. O racismo é um fator difícil de auferir, mas também possui impacto significativo, ressalta o Ipea. O estudo levanta a hipótese de que diminuiu a incerteza dos empregadores sobre a produtividade dos negros mais jovens na hora da contratação. Eles atribuem essa mudança a transmissão de informações sobre o bom desempenho dos negros nos últimos anos. Com o decorrer da vida ativa do trabalhador, a distância no salário pago a brancos e negros aumenta, porque o nível de escolaridade passa a fazer diferença. Dados do IBGE demonstram que 36,4% dos negros tem quatro a sete anos de estudo, contra 28,1% dos brancos, enquanto 42,9% dos brancos tem mais de 11 anos de estudo, contra 24,9% dos negros. A consequência é que mais de 40% dos brancos ganham acima de três mínimos e só 17% dos negros atingem esse patamar. Quase 64% dos negros ganham menos de dois salários mínimos. O estudo do Ipea também argumenta que a estabilidade econômica pode ter contribuído para a queda do preconceito com os negros jovens. Períodos de inflação alta provocam indexação dos salários. Em períodos de preços estáveis, os salários são mais flexíveis, reduzindo a preocupação do empregador com a produtividade.