Título: Carvalho nega conhecimento de extorsões e CPI planeja acareação
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2005, Política, p. A6
Em resposta às acusações de que teria transportado à cúpula do PT dinheiro recolhido em um esquema de extorsão a empresários de ônibus em Santo André, quando atuava como secretário de Governo do município, o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, disse ontem à CPI dos Bingos que não foi "mula de ninguém". Para rejeitar as denúncias, feitas há duas semanas pelo médico João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado Celso Daniel, Carvalho apropriou-se da gíria utilizada para designar homens e mulheres que levam plásticos com cocaína, em vôos internacionais, para abastecer redes de tráfico de drogas. Em depoimento fechado, Carvalho negou que ele e Celso Daniel soubessem de um esquema de corrupção em Santo André, mas admitiu ter recebido um dossiê apócrifo contendo informações sobre extorsões a empresários. Ele acusou João Francisco de defender interesses de uma companhia de ônibus no município - a Expresso Guarará - e pedir favorecimentos a ela, durante a gestão de seu irmão. Esse foi o relato de parlamentares que acompanharam a sessão, conduzida a portas fechadas a pedido de Carvalho. Os senadores acataram a solicitação, com base em dois motivos: pela função dele e para dar mais liberdade ao depoente, preservando a imagem das pessoas envolvidas. No início de setembro, João Francisco disse à CPI que, logo após a morte de Celso Daniel, Carvalho o procurou para dizer que o prefeito assassinado tinha conhecimento do esquema de achaque. Então secretário de Governo, o atual assessor de Lula teria dito que chegou a transportar R$ 1,2 milhão recolhidos no esquema para o presidente do PT à época, José Dirceu, "morrendo de medo, em seu Corsa preto", conforme relato do médico. Os recursos teriam como objetivo financiar campanhas eleitorais. "Eu não fui mula de ninguém", rebateu Carvalho, segundo vários parlamentares. "A única coisa que ele confirmou foi a existência do Corsa preto", disse o senador José Jorge (PFL-PE). Na verdade, Carvalho também reconheceu que conversou pelo menos cinco vezes com João Francisco, após a morte de Celso Daniel, duas delas a sós - uma no carro e outro na casa do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que acompanhava o andamento das investigações. "Ficou uma palavra contra a outra, mas é preciso admitir que João Francisco usou um tom mais emocional", resumiu o relator da comissão, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), que considerou convincente o depoimento de Carvalho. "Ele explicou tranqüilamente todas as questões", afirmou o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP). Para o líder do PFL, José Agripino Maia (RN), o assessor de Lula buscou menosprezar e desqualificar o irmão de Celso Daniel. "Só vejo um caminho: provocar um confronto claro, com uma acareação entre os dois", defendeu o líder pefelista. Ele garantiu que o PFL apresentará esse requerimento na CPI e quer que a acareação inclua ainda Bruno Daniel, outro irmão do prefeito assassinado, que teria testemunhado a confissão de Carvalho. "É algo que pode nos oferecer boas respostas", completou Agripino. Antes do início do depoimento, a comissão aprovou a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico de Juscelino Dourado, ex-chefe de gabinete do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Também agendou para a próxima terça-feira o depoimento do doleiro Antônio Claramunt, o Toninho da Barcelona, que assegura ter conhecimento de supostas transações bancárias de dirigentes petistas no exterior. Entre eles, a do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que já afirmou ter remetido dinheiro legalmente ao exterior e repatriado os recursos no início do governo Lula.