Título: Lula diz que eleições não afetarão juros
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2005, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a redução das taxas de juros decidida pelo Banco Central foi técnica e que não haverá influência da temporada eleitoral nas decisões daqui para frente. Mas admitiu em conversa com empresários a dificuldade para aprovar reformas com a aproximação das eleições. "Já dizíamos há algum tempo que a taxa de juros cairia quando os responsáveis pela política monetária entendessem que deveria cair. Chegou o momento, a economia está sólida, o emprego e o PIB estão crescendo, alguns salários também estão crescendo". Lula disse que "não haverá mexida na economia por conta de política e campanha eleitoral. (...) Se o presidente e o ministro da Fazenda brincarem com a economia porque vai ter eleição a gente vai jogar fora uma oportunidade como tantas vezes foi jogado fora no Brasil". Ao falar a empresários durante o primeiro compromisso do dia ontem em Nova York, o presidente disse que, depois de muita pressão de analistas para a independência do Banco Central, recebia recentemente reclamações pedindo para que interviesse para reduzir as taxas de juros. Na palestra as empresários, Lula antecipou-se às inevitáveis perguntas sobre a crise política e mencionou a dificuldade de continuar aprovando reformas no Congresso. Segundo o consultor Thomas Mac Larty, ex-chefe de gabinete do presidente Bill Clinton e sócio da consultoria Kissinger Mc Larty, Lula disse que o compromisso com as reformas e a economia é mais "profundo" que a crise, mas foi realista ao admitir que no ano eleitoral de 2006 será mais difícil a aprovação das reformas. Embora ainda haja alguma "ansiedade e preocupação" com a crise entre os representantes de empresas com negócios no Brasil, há um "sentimento de que não interessa a ninguém descarrilar a economia brasileira", disse Mc Larty. Participaram do encontro com o presidente o vice-chairman do Citigroup, William Rhodes, e representantes de empresas como Microsoft, Eli Lilly, Federal Express e outras. Houve algumas perguntas sobre direitos de propriedade intelectual, que têm provocado a maior polêmica entre o governo brasileiro e empresas de software e farmacêutica. Na sua volta ao Brasil, Lula deve encontrar um pedido de encontro do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Severino sondou o Palácio do Planalto a respeito da possibilidade de ter, hoje, um encontro com o presidente. Até ontem à noite, o pedido de audiência ainda não havia sido levado oficialmente. O presidente da Câmara quer discutir com Lula a situação de seus aliados no governo, no caso de se decidir pela renúncia ao mandato. Desde o surgimento da denúncia contra o presidente da Câmara, há 12 dias, duas correntes emergiram no Palácio do Planalto: uma que defendia que a crise deveria ser deixada no Congresso sem envolvimento do Executivo e outra, que se tornou vitoriosa, que defendia o apoio a Severino Cavalcanti. O argumento deste grupo, que incluía o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, e o líder do governo, Arlindo Chinaglia, era evitar que o presidente da Câmara se sentisse abandonado e buscasse apoio na oposição ou mesmo se afastasse do cargo deixando em seu lugar o vice, José Thomaz Nonô, do oposicionista PFL. (Colaborou, Jaqueline Paiva, de Brasília)