Título: Jefferson diz que deve ser o único cassado
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2005, Política, p. A7

O ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) não acredita na perda do mandato por parte dos parlamentares envolvidos nas denúncias de pagamento de mensalão. "Acho que eu vou ser o único cassado", afirmou o petebista, que perdeu o mandato na quarta-feira. A avaliação de Jefferson é de que o processo na Justiça, movido pelos parlamentares acusados de participar do esquema de corrupção, prosseguirá por muito tempo, com recursos e ações. "Essa ação vai durar mais de um ano", disse, em sua primeira entrevista coletiva depois da queda, ontem. Como os colegas, Jefferson também recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) na tarde de ontem para tentar reaver seu mandato. Ao chamar o processo de cassação de seu mandato de "fascista", Roberto Jefferson elogiou a liminar concedida pelo presidente do STF, Nelson Jobim, a seis deputados do PT para sustar a tramitação dos processos de perda de mandato por falta de decoro. Jobim alegou que os parlamentares deveriam ter tido direito de defesa na fase de tramitação na Corregedoria da Câmara. Os advogados de Jefferson alegam violação dos ritos formais do processo que cassou o deputado. O relator de seu recurso no STF é o ministro Celso de Mello. Ontem, pela manhã, Fernando Gonçalves, suplente de Jefferson e presidente do PTB no Rio de Janeiro, tomou posse. Jefferson manteve os ataques feitos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante seu discurso na sessão que o cassou. Voltou a chamar o presidente de "bode" e "preguiçoso". Reiterou que quem montou todo o esquema foi o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. O ex-deputado chegou à sede do PTB por volta das 17h15 de ontem acompanhado por assessores. Ele passou o dia em casa. Recebeu visitas de parlamentares e ligações de amigos. Deu entrevistas a rádios da Colômbia e do interior do Brasil. Jornais argentinos também conversaram com o ex-deputado por telefone. Pela manhã, teve aula de canto, como de costume. Na noite de quarta-feira, depois da sessão na Câmara, Jefferson foi para seu apartamento. O líder do PTB, José Múcio, e os deputados Luiz Antonio Fleury e Nilton Capixaba ficaram em sua casa até às 0h30. A entrevista começou com Jefferson dizendo que não estava surpreso. "Nunca acreditei que seria absolvido. Meu discurso foi de despedida", afirmou. "Eu já estava cassado desde quando denunciei o esquema. Rompi com a instituição. Eviscerei a Câmara." O ex-deputado recomendou que o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, deixe o PTB: "Vou fazer um apelo à minha bancada para se afastar do governo. O ministro Walfrido me disse uma vez que, assim que eu começasse a fazer críticas ao presidente, ele se desligaria do PTB para continuar no ministério. Espero que ele cumpra a promessa, porque senão o PTB será reduzido ao ministério do Turismo, que é um traque". A idéia de Jefferson é ter o PTB na oposição aproveitando o bônus de ser o autor das denúncias de corrupção. "Estamos permitindo que o PFL e o PSDB se assenhorem do nosso discurso. Tá errado. Nós é que fizemos tudo isso aí", afirmou. Em relação a Lula, o deputado não pensa no impeachment: "Quero que ele vá até o final (do mandato) sangrando, cada dia uma agonia. Interromper agora pode dar a ele a chance de dar uma de (Hugo) Chavez (presidente da Venezuela) e dizer que a esquerda está contra ele". Jefferson explicou porque mudou de posição em relação ao presidente. No início da crise, o ex-deputado poupara Lula. "Quem me chamou a atenção pra isso foi o Dirceu. Eu disse que ele e o governo estavam plantando um crime que nós não tínhamos. Queriam plantar no colo do PTB o Maurício Marinho", disse, ao referir-se às investigações da Polícia Federal sobre a corrupção nos Correios. "Dirceu me respondeu: 'Eu não! Eu brigo de frente! Não sou eu quem manda no ministro da Justiça'. Ele me deu as dicas de que era o Lula", afirmou. Jefferson revelou um pedido feito por ele aos companheiros de partido para devolverem os R$ 4 milhões repassados ao PTB pelo empresário Marcos Valério Fernandes. "Vou devolver ao PT", afirmou. O ex-deputado reitera a disposição em não apontar os beneficiários do dinheiro. "Não vou colocar a culpa nos outros. Meu nome é Roberto Jefferson e não Genoino", disse, ao referir-se ao ex-presidente do PT: "Ele jogou tudo para o tesoureiro". Quanto ao futuro, Jefferson refutou qualquer chance de voltar a se candidatar e disputar mandato para voltar ao Congresso. "Nunca mais!" Agora, vai ajudar a reestruturar o PTB. "Tenho 74% de aprovação em quase todos as regiões. Vou ajudar os meus companheiros", concluiu, ao revelar que pedirá aposentadoria para manter o salário de parlamentar.