Título: Oposição quer Nonô no lugar de Severino
Autor: Raymundo Costa e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2005, Política, p. A9
Crise Governistas já sondam posição de pefelista sobre eventual processo de impeachment do presidente Lula
Para apreensão do Palácio do Planalto, o nome do vice-presidente da Câmara, o pefelista José Thomaz Nonô (AL), está sendo efetivamente analisado por partidos oposicionistas como candidato de peso à sucessão do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE). Os partidos trabalham com a expectativa de que Severino anuncie sua renúncia ao mandato entre terça-feira e quarta-feira da próxima semana. O nome de Nonô foi apontado, ontem, em almoço que reuniu parlamentares do PFL, PSDB, PV, PPS, entre outros, como uma opção viável. O grupo, formado por partidos que lideraram o movimento no Congresso para cassar o mandato de Severino, também estabeleceu premissas para o jogo sucessório. Entre elas, a de que o novo presidente não deve ser de uma legenda que não assinou a representação ao Conselho de Ética em que é solicitada a abertura de processo de cassação contra o presidente. Assim, estaria fora do jogo apenas o PT. No limite, o grupo aceitaria a candidatura do presidente do PMDB, Michel Temer (SP), mas a tese perdeu força ao fim do dia. O PMDB, assim como o PSB, só resolveu aderir à representação contra Severino um dia depois dos demais partido. A opção Nonô foi detectada no Palácio do Planalto. Um emissário do governo chegou, inclusive, a consultar ontem o próprio pefelista se, na presidência da Casa, levaria adiante um eventual processo de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo também sondava a postura de Nonô durante a vacância. Prontamente, o parlamentar respondeu que não representaria partidos na presidência e que, uma vez no cargo, agiria como magistrado. "É evidente que não aceitarei qualquer maluquice", teria respondido Nonô. Mais tarde, o deputado fez questão de deixar claro que não está em campanha. "Eu sou o vice. Vice é substituto eventual." Segundo Nonô, que esteve com Severino ontem pela manhã, o presidente da Câmara foi aconselhado a passar o final de semana analisando o cenário com a família, amigos e correligionários. "A decisão de renúncia é unilateral", enfatizou o vice-presidente. Ontem, Severino passou o dia na residência oficial. Provocou inquietação a visita de um médico ao deputado. Diabético, ele fez ontem exame de rotina para controle de glicose. Alguns parlamentares que têm conversado diariamente com Severino alertam que não pode ser descartada a hipótese de ele optar por uma licença médica de 120 dias, pois ainda confia que poderá ser poupado da cassação pelo plenário. Ainda maior partido da Casa, o PT começa a assimilar as dificuldades para emplacar um substituto. O líder da bancada, Henrique Fontana (RS), vetou, em reunião na quarta-feira, a abertura formal do debate sucessório. A conclusão dos dirigentes petistas é que a Câmara precisa de estabilidade. Por outro lado, o PT rejeita vetos. "Um boicote ao PT seria inaceitável", afirmou Fontana. O líder assegura que a bancada está disposta a negociar com todos os partidos, inclusive com a oposição, caso Severino opte pela renúncia. Entre os partidos, prevalece um certo eufemismo para justificar o veto ao PT. "Não é veto. Não basta a proporcionalidade. Não estamos discutindo nomes, mas a instituição. E o PT é o partido responsável por tudo isso que estamos vivendo. Temos que ter coragem de dizer isso", alegou o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE). Freire é um dos defensores de Nonô. "Num momento como esse, o bom para a Casa é que não haja o contraditório. Nonô representa bem a Câmara. E daí que é do PFL?", argumenta. Além de Nonô, o PFL considera também o nome do deputado José Carlos Aleluia (BA). No PSDB, já se fala na candidatura do baiano Jutahy Magalhães Júnior. Discretamente, o deputado Inocêncio Oliveira, agora no PL e na primeira secretaria, tenta se viabilizar pelo baixo clero. No PT, continuam no páreo, a despeito de inúmeras resistências, os deputados José Eduardo Cardozo (SP) e Sigmaringa Seixas (DF).