Título: Lula rearticula sua base de sustentação
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 04/11/2004, Política, p. A-5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa a se articular para recompor sua base política depois das eleições. Em reunião ontem com os ministros da coordenação política, Lula avaliou os resultados da eleição e reiterou que brigas de campanha não poderão ser levadas para o Congresso. Discutiu-se como será a relação do governo com os prefeitos eleitos da oposição, principalmente com o futuro prefeito de São Paulo, José Serra. A orientação de Lula é a de manter "civilidade" no trato com os opositores. O ministro Aldo Rebelo, da Coordenação Política, já começou a conversar com os prefeitos eleitos e ontem tentou telefonar para José Serra. Até às 20h de ontem, ainda não haviam conversado. Lula deve se encontrar com Serra, mas ainda não há data marcada. Uma oportunidade será na próxima semana, quando o presidente deve ter uma reunião em Brasília com boa parte dos prefeitos eleitos das capitais durante encontro que será promovido pela Frente Nacional de Prefeitos nos dias 9 e 10. O porta-voz da Presidência, André Singer, fez questão de dizer que presidente continuará recebendo em audiências individuais os prefeitos eleitos de capitais eleitos no segundo turno. Ontem, também, Lula se encontrou com o prefeito eleito de Salvador, João Henrique (PDT), e já conseguiu o início de uma aproximação com o PDT. "Eu me coloquei à disposição do presidente como interlocutor junto aos prefeitos do PDT e aos parlamentares do partido e tenho certeza que todos vamos reconhecer o trabalho do governo à medida que possamos ter seu apoio para cumprir as nossas promessas de campanha", disse João Henrique. O deputado Nélson Pellegrino (PT-BA), candidato derrotado à prefeitura de Salvador, presente ao encontro, avaliou que o governo precisa de uma estratégia ofensiva pra trazer o PDT de novo para a base aliada. O PDT tem cinco senadores e 12 deputados. O deputado Severiano Alves (BA) deve ser o novo líder do PDT na Câmara, o que deve facilitar a aproximação. "Agora é hora de o governo pensar na governabilidade dos próximos dois anos", afirmou. Lula também discute como realinhar partidos aliados como o PMDB, que há duas semanas uniu-se à oposição para inviabilizar as votações. Para tentar retomar as votações no Congresso - que estão paradas desde 19 de outubro - o presidente pediu para que o ministro Aldo Rebelo marque para a próxima semana uma reunião com o presidente da Câmara, João Paulo (PT-SP), e os líderes do governo na Casa. Na seqüência, haverá também uma reunião com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB). O governo precisa reunir a base para votar matérias importantes como o projeto que cria as Parceiras Público-Privadas (PPPs) e o Orçamento de 2005. Ontem, Lula também recebeu o prefeito eleito de Osasco, Emídio de Souza, do PT, que foi ao Palácio do Planalto acompanhado pelo presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP). Em Osasco, o PSDB passará o governo para o PT.