Título: Indíos filiados esperam receber nomes de candidatos na boca da urna
Autor: César Felício e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2005, Política, p. A12

O processo de filiação em massa promovido pelo PT a partir de 2001 chegou às fronteiras dos povos nativos brasileiros. Em uma das três tribos guaranis existentes no município de São Paulo, a Tenonde-Porã (que significa Futuro Bonito), no extremo sul da capital paulista, cerca de 40 indígenas dos 770 moradores se filiaram ao partido nos último anos. Alguns deles, por iniciativa própria, depois que programas sociais de transferência de renda iniciados na gestão da ex-prefeita Marta Suplicy chegaram ao local. Outros, pela movimentação dos militantes petistas no sentido de transformar a sigla em um partido das massas. "Fomos chamados para uma reunião em Parelheiros (bairro próximo à aldeia) e eles deram o cartão que comprovava a filiação. Na época, se foi paga uma contribuição, foi pela pessoa que me convidou, que não lembro mais quem é. Na nossa região, a maioria é PT. Tem uma base muito forte. São eles que vêm atrás", diz o guarani Ednaldo de Souza, 37, filiado ao PT desde 2001, e que nunca contribuiu para o partido. Cético quanto aos rumos que o governo Lula tomou, equipara hoje o PT junto aos demais partidos. Sua maior decepção com o governo, porém, é mais em relação às promessas feitas e não cumpridas do que quanto às denúncias de corrupção. "O Lula prometeu um bom salário mínimo, mas ficou só na promessa." Boa parte dos petistas-indígenas da aldeia votarão neste domingo nas eleições internas da legenda, mas mal sabem quem concorre. Nomes como Tarso Genro e Ricardo Berzoini são desconhecidos no local. Ignoram também até onde o resultado das eleições petistas pode mudar os rumos do partido e do governo. "Não chegou nada para mim ainda, estou na expectativa de uma orientação. A decisão acontece mesmo é na boca de urna. Na hora é que a gente decide", afirma o guarani Cláudio Fernando, 23, que procurou o Partido dos Trabalhadores (ou "o mba`eapo vaé kuery regua", em guarani, que se pronuncia "ombaapó vae quêro rêgua"), em 2002 para se filiar, mas também nunca contribuiu. Apesar de acreditar que os partidos hoje são todos iguais, defende o PT. "Um conjunto indígena nunca tinha sido ajudado pelo governo. Se não fosse o PT, isso aqui não teria melhorado." Ele se refere ao Centro de Educação e Cultura Indígena (CECI) existente na aldeia, inaugurado por Marta em maio de 2004. O projeto introduziu escola infantil com merenda escolar dentro da aldeia e reduziu a mortalidade infantil no local. Segundo o cacique Timóteo, até 2004, o Centro reduziu a mortalidade infantil de 35 ao ano para zero.