Título: Porto Alegre espera quórum reduzido
Autor: César Felício e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2005, Política, p. A12

Governada pelo PT durante 16 anos, até 2004, e palco das mais apaixonadas demonstrações de engajamento dos militantes petistas ao longo de todo este período, Porto Alegre promete um clima bem mais frio e desanimado nas eleições diretas neste domingo. Com o partido arranhado pelas denúncias de corrupção e pelo descontentamento de setores importantes da sigla com as políticas implementadas pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva, o próprio diretório municipal já conta com uma queda pela metade no número de votantes em comparação com a disputa interna de 2001, quando mais de 5 mil filiados foram às urnas. Os que pretendem votar entendem que esta é a última chance de iniciar um longo processo de recuperação, como o economista José Antônio Alonso, 62 anos, ex-presidente da Fundação de Economia e Estatística (FEE) do Estado na gestão Olívio Dutra. Outros, como a bancária e ex-dirigente sindical, Jacqueline la Rosa de Mesquita, 42 anos, se emocionam quando lembram de lutas para "resolver os problemas sociais do país" e hoje se vêem obrigados a cobrar ética do PT. Há também os que sequer pretendem sair de casa no domingo para votar. É o caso da advogada e assessora do Tribunal de Justiça do Estado, Christiane Russomano Freire, 39 anos. "Meu desencanto vem desde o governo Olívio, quando identifiquei o clientelismo que existia nas relações internas, a briga por cargos e a falta de um programa social mais agressivo", diz, de malas prontas para embarcar no PSol. Alinhado com o presidente do partido, Tarso Genro, de quem foi assessor na Prefeitura de Porto Alegre, Alonso já antecipa que em 2006 não vota em Lula. "Ele errou muito", afirma. Com mais esperança, Jacqueline acredita que o PT vai se recuperar da crise, embora só a médio e longo prazo: "O partido não é um bando de corruptos". Com 77,9 mil filiados aptos a votar no domingo, os dirigentes gaúchos esperam o comparecimento de 20 mil a 25 mil pessoas às urnas em todo o Estado. Em 2001 havia 106,2 mil militantes com direito a voto e 29,4 mil participaram da eleição. Ontem Berzoini esteve em Porto Alegre na última viagem pelo país antes da eleição. O candidato encontra dificuldades na reta final. Em Brasília, participou de um jantar anteontem que contou com a presença de apenas um ministro- Luiz Marinho (Trabalho) - e três parlamentares. O baixo quórum ministerial obedece à orientação do Planalto de manter distância da eleição petista. (Colaborou Jaqueline Paiva, de Brasília)